DELEGADO PLÍNIO CONTRA A OKW
- Hatsuo Fukuda
- 18 de mar.
- 4 min de leitura
Uma aventura do delegado Plínio.

Imagem de artguru.ai
3. UM CABOCLO DE PLATÔNIA
O Delegado Plínio investiga a organização. Um aliado inusitado.
O homem manco, de cabelos grisalhos, pediu mais uma pinga. Era um caboclo como tantos, com calças muito usadas, com um rasgo aqui e ali, a camisa sem um botão inferior, sandálias havaianas manchadas e muito usadas, o rosto e os braços morenos de sol, um chapéu de palha esfarrapado. Era um homem que desde criança se acostumara ao trabalho diário no sítio. Muitos trabalhadores a dia passavam por ali, para beber uma pinga antes de voltar para casa e, se houvesse dinheiro, comer um prato de mocotó. Muita gente das cidades vizinhas frequentava a birosca, que ficava nas proximidades do local onde os gatos recrutavam trabalhadores para a lavoura. Aparecido – este era o nome do estranho - logo se enturmou com um grupo que acabava de chegar, todos com ar suado e cansado após um dia de trabalho. Outros grupos chegavam, e Aparecido conversava com todos. Era um caboclo brincalhão e simpático. Ele estava procurando serviço, e logo ficou sabendo de uma empreitada para o dia seguinte. Ficou de vir, e foi embora.
***
Quando o homem chegou em casa, foi direto para o banheiro, onde tirou as roupas sujas e a prótese que modificava o seu rosto e guardou tudo cuidadosamente em um armário com chave. Enfiou-se debaixo do chuveiro para tirar a maquiagem e a tintura do cabelo que o transformavam em um trabalhador bronzeado. O caboclo transformou-se no delegado Plínio, que examinou uns mapas que estavam em uma gaveta e uns relatórios que havia recebido da Central de Comando de Curitiba. Acrescentou algumas marcas em um mapa já várias vezes rabiscado. Não era a primeira vez que ele circulava pelo mundo de trabalhadores rurais às margens do Rio Paraná, em toda a fronteira com o Paraguai. Agora ele tinha um mapa das rotas de contrabando de cigarros, armas e drogas. Carregar e descarregar cigarros era a atividade mais comum. Tão comum que os fazendeiros da região já sofriam com falta de mão de obra. Uma noite carregando um caminhão de cigarros ou maconha pagaria mais que um mês de trabalho em uma fazenda. Era uma operação industrial compartimentada, terceirizada e quarteirizada. Uma equipe recebia o produto no Paraguai, às margens do rio, e o transportava na calada da noite para o lado brasileiro, e lá o descarregava. Uma outra equipe viria e carregaria o caminhão com a droga. O caminhoneiro levaria o produto para uma cidade vizinha, de onde seria levado em outros veículos para o Rio de Janeiro ou São Paulo.
Plínio havia em pouco tempo organizado uma rede de contatos que o mantinha informado de tudo o que acontecia na fronteira. Havia atravessado o rio várias vezes, junto com um antigo companheiro boliviano, que, por falar guarani e conhecer bem a fronteira, era um aliado valioso. Pepe havia participado das tropelias guerrilheiras nos anos 70, e conhecia bem toda a região. Agora ele se dedicava ao contrabando de cigarros, que adquiria no Paraguai e levava a São Paulo, de onde seriam distribuídos para o resto do país. Mas era uma operação pequena, comparada com o que Plínio estava investigando. Pepe não ajudava Plínio por amizade ou companheirismo. A OKW havia se tornado um obstáculo ao seu negócio. Como toda grande organização, a OKW tinha a tendência de subjugar os pequenos que atravessassem o seu caminho. Pepe sofrera na carne a concorrência, havia perdido dinheiro e soldados, e tinha razões de sobra para colaborar com Plínio. Agora a sua pequena organização tinha se aliado a Plínio.
Através de Pepe, ele descobrira que uma guerra silenciosa havia ocorrido em toda a fronteira. Pequenas organizações haviam sido dizimadas ou incorporadas pela OKW, que agora controlava todo o tráfico. Sua força vinha de uma organização superior e uma implacável dureza contra todos que se punham em seu caminho.
Um padrão se delineava nos mapas em que Plínio registrava seus achados. As cargas passavam ao norte e ao sul de Platônia, em toda a extensão da fronteira. Platônia era uma área livre. Trabalhadores poderiam ser aliciados ali, mas seriam levados a regiões mais distantes. Nos últimos cinco anos Platônia se transformara em uma cidade pacífica. A organização não queria chamar atenção para o local.
Plínio, como tinha sido instruído, mantinha apenas para si os seus achados. O quartel general em Quatro Barras recebia apenas as informações que ele considerava necessárias para o trabalho. Sua rede era desconhecida de todos. Sua equipe recebia tarefas pontuais e não tinha ideia de seu paradeiro nas longas semanas em que se ausentava da delegacia. Apenas Mad Leo, em quem ele passara a confiar, tinha conhecimento de algumas de suas atividades, pois ele precisava de um guarda-costas em suas andanças pela fronteira. Às vezes, Pepe cuidava de sua segurança. Mesmo assim, Mad Leo e Pepe eram mantidos no escuro. Para eles não era problema. Mad Leo estava acostumado a obedecer ordens e ficar em silêncio. Pepe, que conhecia os métodos da OKW, sabia que a ignorância era a melhor política. Plínio não levaria um tiro nas costas por descuido.
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