DELEGADO PLÍNIO CONTRA A OKW
- Hatsuo Fukuda
- 8 de abr.
- 3 min de leitura
Uma aventura do delegado Plínio.

Imagem de Italianíssimo.
5. ITALIANOS X POLACOS
Italianos e polacos em pé de guerra. O Delegado Plínio promove o armistício.
Um grupo barulhento encheu a delegacia sem aviso. Uma algaravia de polonês e italiano se ouvia entre os recém-chegados. Entre eles se via Giovanni Rossi, o líder da colônia italiana. Normalmente tagarela, estava silencioso, aguardando o delegado. A polaca Ewa Kowalski falava alto. Ela era uma das que melhor falavam o português, graças ao seu comércio na cidade, e liderava os barulhentos polacos. À chegada do delegado, aos poucos a turba silenciou. A colônia Cecília, constituída de anarquistas, quase todos ateus e inimigos da propriedade, era vizinha à colônia Santa Bárbara, de polacos católicos e ciosos de suas pequenas propriedades. Desta vez o motivo da briga eram os marcos que separavam uma colônia da outra. A discussão recomeçou, acalorada, incompreensível ao delegado, que falava pouco italiano e nenhum polonês. Mandou esvaziar a sala e permaneceu apenas com Giovanni Rossi e Ewa Kowalski. Mandou Edevaldo registrar as queixas.
Ambos haviam trazido presentes ao delegado. Rossi trouxera uma garrafa da cerveja Maltinha e um exemplar do jornal Il Diritto, ambos produzidos pelo seu correligionário Egizio Cini, um enérgico membro da colônia, que também fabricava a gasosa que todos consumiam na cidade. Ewa trouxera um cesto de frutas, pão, salame e uma garrafa de licor. Começaram a conversar animadamente. A estrada que levava às colônias estava em péssimo estado, e combinaram ir juntos ao prefeito reivindicar melhorias. O delegado Plínio abriu a garrafa de Maltinha para celebrar o armistício. Todos beberam de um gole. A paz retornara. Pelo menos por um dia. Eles saíram e foram em direção à prefeitura.
A multidão já se acalmara e tagarelava entre si, numa algaravia de línguas. Como um milagre da multiplicação de cervejas, a Maltinha era partilhada por polacos e italianos. Em um canto, o delegado Plínio viu o casal Anibal e Eleda conversando amigavelmente com seus companheiros, partilhando uma garrafa de cerveja. Ela se juntou ao grupo que iria à Prefeitura, deixando Anibal sozinho. O delegado Plinio, por hábito profissional, observou Aníbal, que por sua vez observava Eleda junto a Giovanni. Observando-os, Plinio lembrou dos versos:
Quando lemos como o riso desejado/Foi beijado pelo amante verdadeiro/Este, que de mim jamais será apartado/A boca me beijou todo trêmulo.
O prefeito, que já sabia da confusão entre os italianos anarquistas e polacos católicos, ao saber que os inimigos jurados queriam apenas melhorias na estrada, abriu um sorriso de alívio. Uma grande verba de 200 mil patacas seria liberada para o conserto da estrada. Italianos e polacos seriam recrutados para os trabalhos. Todos saíram, felizes, e se dirigiram à Praça da República, onde eram aguardados por todos. Plinio, Giovanni Rossi e Eleda ficaram conversando. Eleda, uma italiana afável e gentil, convidou o delegado para a Festa dei Lavoratori. O Primeiro de Maio se aproximava, e as bandeiras vermelhas e negras seriam desfraldadas. A comunidade anarquista viria da Colônia Cecília em direção à Praça da República, dançando e cantando canções revolucionárias. Plinio concordou em ir, porque sempre tinha dificuldade em dizer não para uma bela mulher. E Eleda era uma bela mulher que poderia ser muito persuasiva, com seu sorriso e argumentação fácil, expressa em uma mistura de italiano e português. Mas não iria, envolvido com seus próprios compromissos.
Uma tempestade se aproximava, e polacos católicos e italianos anarquistas logo seriam esmagados por ela. Mas eles de nada sabiam.
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