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GRANDES POEMAS DA NOSSA LÍNGUA XXXVIII

Foto do escritor: Manuel Rosa de AlmeidaManuel Rosa de Almeida

A língua portuguesa tem pérolas esquecidas, espalhadas em velhos livros já não lidos. Cabe agora reverenciar aquele que é, para muitos, o maior poeta brasileiro: Carlos Drummond de Andrade. Lançou seus primeiros versos em 1930 ( Alguma poesia ), aos 27 anos. Formado em Farmácia, não exerceu a profissão. Foi funcionário público por quase toda vida, de maneira que a função pública foi seu mecenas. A literatura brasileira agradece, pois, do contrário, um talento como Drummond poderia ter-se perdido vítima das necessidades da luta pela vida. Embora nascido do Modernismo, apenas herdou o verso livre, maior liberdade de rima, ritmo e métrica, para poetar de um jeito somente dele. Para alguns pensadores, não há pior sentimento que o medo. O medo que paralisa movimentos e atrofia sentimentos. Drummond tratou do medo neste poema fortíssimo, escrito no período pós II Guerra Mundial, assombrado por nomes como Dachau, Treblinka, Hiroshima e Nagasaki. O poeta, como o mundo, olhava estarrecido para tanta barbárie e destruição.


Imagem de Wikipedia


CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO


Provisoriamente não cantaremos o amor,

que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.

Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,

não cantaremos o ódio, porque este não existe,

existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,

o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,

o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,

cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,

cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.

Depois morreremos de medo

e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.


Carlos Drummond de Andrade ( 1902/1987 ) - Se não o maior, um dos mais influentes poetas brasileiros. Escreveu sobre diversos assuntos, de questões metafísicas às misérias do cotidiano, passando por política. Mineiro de Itabira, viveu por décadas no Rio de Janeiro. Além de funcionário público, foi poeta, contista e cronista, escrevendo para diversos jornais importantes. Drummond tem um estilo único, em que mistura ou permeia muita ironia, empatia e visão do mundo.

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