Tente não deixar a amargura tomar conta...
Imagem de Jornal GGN.
Superado o primeiro impacto das eleições norte-americanas, aquele primeiro dia em que você acha que de fato a humanidade jamais evolui ( exceto tecnologicamente ) e está disposto a desistir de tudo e de todos entregando-se a uma selvagem misantropia, quando finalmente você respira fundo e diz pra você mesmo que nem tudo está perdido, que lições é possível tirar das eleições na maior democracia do mundo?
Definitivamente, tudo é possível. Não é só no Brasil que a Presidência da República pode ser ocupada pelos cidadãos menos capacitados e de moralidade duvidosa. Aqui já elegemos um sindicalista totalmente despreparado e que, para governar, envolveu-se ou deixou-se envolver nas maiores maracutais que a República já viu. Depois elegemos um capitão reformado que nunca trabalhou na vida e na Presidência demonstrou todo desapreço ao trabalho, além de uma absoluta falta de empatia com as pessoas, além de negacionismo, corrupção e incapacidade. A Argentina elegeu um maluco... Então, porque os norte-americanos não poderiam escolher o maior picareta que já pisou na terra do tio Sam?
A humanidade é só um rebanho de ovelhas egoístas que apenas pensam nos seus mesquinhos interesses. Como todo rebanho, são facilmente manipuláveis. Nos EUA Donald Trump é seu pastor. Aqui Bolsonaro ( a esquerda não domina a técnica ). O cajado do pastor é a rede, esta insólita, avassaladora e incontrolável ferramenta*.
As pessoas não estão nem aí com valores como democracia. Se forem indagadas a respeito, dirão que sim, a democracia é importante, etc e tal. Mas na prática estão pouco se lixando para democracia. Isso explica como mais de 70 milhões de eleitores americanos foram capazes de votar em Trump, mesmo depois da invasão do Capitólio. As pessoas estão sempre dispostas a entregar sua liberdade a um ditador de plantão.
O ser humano, este animalzinho desajeitado e egoísta, tem profunda admiração por figuras fortes. Putin e Netaniahu são admiradíssimos. Rigorosamente deveriam merecer apenas desprezo, tendo em vista o número de vidas que sacrificam no altar da sua busca da manutenção do poder. Não defendem os interesses de seus países. Ao contrário, sacrificam também os interesses de suas nações para perpetuar-se no poder. Mas não. Ambos são admiradíssimos, assim como outros questionáveis lideres da humanidade.
A incompetência e a arrogância da esquerda são o maior fermento da extrema direita. A postura pedante de quem sabe tudo adotada pelos intelectuais de esquerda, a maneira como tratam as pessoas simples como se fossem crianças a serem conduzidas, o desrespeito à religiosidade dos outros e as absurdas pautas pretensamente inclusivas, estão entregando, de bandeja, o planeta à extrema direita.
Não aprendemos absolutamente nada com a história e, exatamente por isso, ela se repete. A ascenção do facismo e do nazismo no período entre grandes guerras repete-se agora, cem anos depois. E as pessoas, ignaras, endossam este movimento. No passado, esta avalanche acabou na pior guerra da humanidade. Agora, seguimos os mesmos passos...
Por muitos anos ouvimos a conversa de que o Brasil não é um país sério. Seriedade há nos Estados Unidos da América. Bem, particularmente penso que em um país sério alguém que claramente atentou contra a democracia - incitando uma multidão a atacar o coração do Parlamento e comprovadamente tentando fraudar o resultado das eleições - sequer seria elegivel. Ao menos no que toca à Justiça Eleitoral, ao sistema eleitoral e à forma de votação e escrutinação temos tudo a ensinar aos nossos irmãos do Norte.
* Para quem quer se aprofundar no estudo do fenômeno das fake news e das propostas de controle, recomendamos enfaticamente o livro Quanto vale a liberdade? de Tailine Hijaz - Dialética Editora, 2023.
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