Uma aventura do delegado Plínio.

Imagem feita com IA por Canva.
Capítulo 10
BALANÇO GERAL
Brainstorming na delegacia.
O delegado Plínio colocou os pés na escrivaninha, pensando com seus botões. O caso do botijão furtado não saía da sua cabeça. Havia o craqueiro que furtava todos os pertences da casa para alimentar o vício, para desespero da mãe, que ia todos os dias à delegacia. O marido que comemorou o aniversário de casamento enchendo a mulher de pancada. A mulher que saiu nua pelas ruas, gritando, para espanto e galhofa dos vizinhos. Uma mulher solitária. “Eu também estou solitário, mas fico na vontade. Não saio gritando pelas ruas”. Estava difícil concatenar as idéias com tantos problemas para resolver. Os pés, com os calcanhares no tampo da mesa, concordavam com a cabeça. Problemas de alta indagação exigem providências mais enérgicas, diziam. A promotora concordava com a juíza. O delegado é um banana. Além de tudo, preguiçoso. Só trabalhava 14 horas por dia. E ainda tinha o desplante de almoçar e jantar durante o expediente. E não fazia a barba todos os dias. Isso ele pensou enquanto coçava a barba de três dias. Pensou vagamente em comprar um terno novo. Na The New Look of the Year? Não, a loja estava fechada, aguardando um novo proprietário.
***
Chamou Edevaldo e Leonardo para discutir o caso. Mandaram vir duas pizzas grandes (grátis uma Gasosa Cini 2 litros). Maíra, atenta, apareceu sem ser chamada. Pegou um pedaço de pizza e ficou ouvindo, com um ar distraído. Não havia movimento na delegacia àquela hora.
Fez um balanço do que tinham. Duas mortes, em duas sextas-feiras, com seis tiros. Graças à repercussão dos crimes, a balística tinha trabalhado rápido. Todas as mortes tinham sido cometidas com a mesma arma, uma Glock 9 mm. Era um crime de ódio.
Eles formavam uma confraria de pedófilos, que se reunia regularmente, mas não se encontravam no dia a dia. As famílias não se freqüentavam, algumas das esposas sequer sabiam que se encontravam (caso de Ingrid, esposa do Dr. Maneco, que não era da cidade). Alfredo estava morando em Curitiba, com o filho. John Lennon da Silva estava internado em um hospital em Londrina, tratando de um câncer. João Apolinário estava pescando, incomunicável. E tão cedo não apareceria.
Ingrid possuía uma Glock 9 mm, que tinha convenientemente perdido. Mas ela tinha álibi para todas as sextas-feiras. Ela tinha uma empregada, Irina, que recebia visitas do namorado, Mateus, que fabricava linguiças e morava a poucos minutos do local do primeiro crime. Ele poderia ter furtado a Glock e ido ao local em poucos minutos, sem que ninguém na família soubesse. Mas qual seria seu motivo?
O motivo do crime era óbvio: vingança contra os pedófilos. Ingrid tinha a arma, mas não tinha motivo. Ela se dava bem com o marido, e, além disso, Maneco era uma alavanca para seus negócios. Mateus poderia ter furtado a arma e estava próximo ao local do crime. Mas qual seria seu motivo? E Irina?
Edevaldo olhou para umas folhas contendo os depoimentos dos empregados da Fazenda Dois Irmãos, coloridas com uma caneta marcadora, e falou:
- Todos os empregados sabem da Glock. E são todos antigos na casa. Nenhum deles pegaria na arma da patroa. O único estranho é o tal de Mateus, que é amigo ou namorado de Irina. Ele é o mais provável suspeito pelo desaparecimento da arma. E mora perto da cena do crime.
O delegado Plínio, impaciente, perguntou, sabendo da resposta:
- Onde anda Irina?
Mad Leo falou com um tom de mágoa.
- Ela foi visitar uns parentes no Paraguai, chefe. Está no relatório.
O delegado Plínio ignorou o investigador e falou direto para Maíra.
- Não sabemos nada de Irina. Não sabemos quem são seus pais, onde ela nasceu, quantos anos tem. Que tipo de ligação ela tem com Mateus? Levante tudo o que puder sobre ela. Isso é para ontem.
Precisavam fazer uma busca no fabricante de linguiças. Mateus poderia estar com a arma. Mas não tinham elementos para pedir uma busca e apreensão. A Juíza não daria a ordem com base em uma suspeita frágil e sem fundamentos. Afinal, por que motivo Mateus furtaria a arma e mataria Maneco e Marcos? Qual a ligação de Irina com o caso? Eles só tinham perguntas. Não havia final à vista. Estavam ainda em um beco sem saída.
Tomaram café enquanto fumavam. Plínio tirou a garrafa de uísque da gaveta. Maíra, para surpresa de todos, serviu-se de uma dose dupla. Vegetarianos também bebem.
Esta é uma obra de ficção. Os leitores desavisados que se dispuserem a ler (por sua própria conta e risco) estejam advertidos que este Blog não se responsabiliza pelos desatinos do autor. Este suposto romance será publicado em capítulos toda terça-feira. Qualquer semelhança com fatos e pessoas é mera coincidência e não poderá ser imputado ao blog qualquer responsabilidade. A publicação poderá ser interrompida a qualquer momento, caso o autor morra, se suicide ou seja internado por insanidade mental. (Nota do Editor).
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