Uma aventura do delegado Plínio.

Imagem feita com Aiease.ai.
Capítulo 12
CORAÇÃO DE LUTO
O coração tem razões que a própria razão desconhece.
Um dia normal em Platônia. Nenhum problema à vista, os presos calmos, devidamente alimentados e cuidados. Edevaldo digitando em um inquérito. Maíra e Leonardo disputando uma queda de braço, sob os olhares sorridentes do pessoal. Chegou um cidadão para dar um aviso:
“Olha, Doutor, está acontecendo uma coisa estranha lá. Acho melhor o senhor dar uma olhada.”
Como ninguém vai à delegacia para falar besteira com o delegado, mandou um investigador, acompanhado da PM, dar uma olhada. “Lá”, era um sitiozinho, alguns quilômetros de distância da cidade, na estrada à beira do Rio Paraná.
Logo entraram em contato.
“Está feio aqui, doutor. Tem um incêndio e mais algumas coisas. Já chamamos o Corpo de Bombeiros, mas o senhor precisa dar uma olhada.”
A famosa expressão “dar uma olhada” novamente. O delegado saiu acompanhado de Maíra e Leonardo.
Logo se deram conta que “lá” era o sítio onde se fabricava linguiça, onde morava o casal João e Maria, e Mateus, o namorado de Irina. Todos entraram em estado de alerta. A casa que precisavam invadir estava em chamas.
Chegando lá, um quase caos. Alguém havia iniciado um incêndio no mato perto da casa, que havia se espalhado para o lado oposto da estrada, impedindo o tráfego. O Corpo de Bombeiros tinha vindo com uma ambulância. Outra viatura, da Polícia Militar, também estava lá. O sargento, quase sem fôlego, contou que o filho do casal, Mateus, em fúria, armado com um facão e pedras, impedira a entrada dos policiais na propriedade.
Na confusão do combate às chamas, Mateus, que havia começado o incêndio, pôs fogo em um carro da polícia e fugira na ambulância.
Encostada à parede da casa, uma adolescente em silêncio observava a confusão, olhos assustados, mãos trêmulas. A mãe a abraçava, chorosa. Parkinson? Nervoso da situação, pensou o delegado.
Leonardo mostrou uma trilha de sangue no chão em frente à moça trêmula. Acompanhando a linha, chegaram ao corpo estendido no chão, uma enorme poça de sangue emoldurando o cadáver. Era João, o pai de Mateus. Sangue por toda parte. Tomaram cuidado para não pisar nas poças já se coagulando.
No peito, do lado esquerdo, um facão de cortar carne havia feito o seu trabalho. Duas mãos fortes haviam separado as partes e retirado o coração. Não era preciso ter tido aulas de Medicina Legal para constatar o fato.
O moedor de carne na mesa ao lado mostrava um trabalho não terminado.
Eles entraram na casa, que estava com as portas escancaradas. Nos fundos, havia uma pequena cabana onde havia um quarto e um banheiro. O delegado abriu a porta, com cuidado. Uma cama de solteiro, um armário, uma escrivaninha, uma cadeira eram os únicos móveis do local. Nas paredes, Mateus havia pendurado com tachinhas fotos e notícias de sites eletrônicos. No centro, fotos do Dr. Maneco, Marcos da New Look, João Apolinário. Nas três fotografias, um grande X mostrava que o serviço havia sido feito. Em uma gaveta da escrivaninha encontraram uma Glock com um pente quase vazio. Fotos de Marcos com crianças estavam na gaveta. Fotos que deveriam ter sido recolhidos do cofre da New Look.
O delegado Plínio guardou a arma e se sentou na cadeira. Ele estava na cela de um asceta, de um homem obcecado por uma visão e uma missão. Nada distrairia aquele monge da missa negra que pretendia rezar e que preparara cuidadosamente.
Mateus foi capturado na estrada para Iporã e levado à Delegacia, as mãos e as roupas ainda manchadas de sangue. Um médico foi chamado e aplicou uma injeção que faria adormecer um cavalo. Ele permaneceu sentado, sem se mover, sem dormir, mudo, no mesmo local, até o dia seguinte. Telefonemas para lá e para cá; finalmente, o delegado conseguiu interná-lo no Complexo Médico Penal em Curitiba. Ele não daria trabalho; estava em estado catatônico e assim permaneceria por muito tempo.
Um surto psicótico havia solucionado o caso. Um golpe de sorte abrira as portas da casa que o delegado encontrara fechada.
Esta é uma obra de ficção. Os leitores desavisados que se dispuserem a ler (por sua própria conta e risco) estejam advertidos que este Blog não se responsabiliza pelos desatinos do autor. Este suposto romance será publicado em capítulos toda terça-feira. Qualquer semelhança com fatos e pessoas é mera coincidência e não poderá ser imputado ao blog qualquer responsabilidade. A publicação poderá ser interrompida a qualquer momento, caso o autor morra, se suicide ou seja internado por insanidade mental. (Nota do Editor).
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