top of page

MISTÉRIO EM PLATÔNIA

Foto do escritor: Hatsuo FukudaHatsuo Fukuda

Uma aventura do delegado Plínio.


Imagem de Freepik.



Capítulo 13


EPÍLOGO


O inquérito chega ao fim. Para o delegado Plínio, é o fim do começo.



O delegado geral recebeu Plínio calorosamente. A conclusão das investigações havia sido mais do que satisfatória. Um perigoso criminoso havia sido preso, e permaneceria internado pelo resto da vida. O bem havia vencido o mal, a ordem natural das coisas estava assegurada. Incidentalmente, o prestígio da polícia estava em alta, e o Governador havia telefonado para lhe dar os parabéns. Para o delegado Plínio, nada disso importava. Traçou para o chefe um panorama da investigação. À medida que ouvia, o delegado geral sombreava o rosto. A notícia que três pilares da sociedade paranaense compunham um grupo de pedófilos o fez mover-se na poltrona. Mas nada disso havia transpirado no inquérito. Afinal, a autoria dos crimes estava definitivamente estabelecida pela perícia técnica. A motivação era o ressentimento do assassino com a condição social das vítimas, agravado por uma psicopatia que ao final o fizera cometer o assassinato de seu próprio pai, em um acesso final de loucura. Ele se aproveitara do acesso à Fazenda Dois Irmãos para roubar a arma que seria utilizada no crime. Uma solução perfeita para o caso.


O delegado Plínio ressaltou as pontas soltas. Irina, a namorada do criminoso, estava desaparecida. Seu papel nos assassinatos não fora esclarecido. O carro do Dr. Maneco não fora encontrado. João Apolinário não havia retornado de sua pescaria e não se sabia de seu paradeiro. No quarto da vítima não havia computador nem impressora, nem acesso à Internet, mas as paredes estavam empapeladas por fotos e imagens tiradas das redes sociais. Tudo indicava que o criminoso não agira sozinho. Ele fora ajudado por alguém ou por um grupo. Tudo isso fora convenientemente ignorado diante dos achados no quarto e da morte trágica do pai de Mateus. Ele deveria prosseguir nas investigações.


O delegado geral assumiu um ar circunspecto. A polícia fizera o seu papel. O crime fora desvendado, o criminoso estava enjaulado. A sociedade estava em paz. O caso estava encerrado.


Eles se despediram cordialmente. A cabeça de Plínio permaneceria grudada ao pescoço. Ele era um herói da polícia.


***

Irina tirou o chapéu e enxugou o rosto molhado de suor. O ar úmido e a alta temperatura do dia faziam a lida com o gado exaustiva. O gado solto no pantanal tinha que ser recolhido antes do anoitecer, e todos os vaqueiros haviam sido chamados para a lida. Irina foi também, porque o recolhimento dos animais a deixava exausta e aliviava a pressão no cérebro. Sua irmã, Ingrid, havia recomendado que educasse a mente e o corpo. E ela, como boa irmã mais nova, obedecia. Sua rotina incluía o aprendizado de línguas, lutas corporais, uso de armas brancas, revólveres, pistolas e armas longas. Mas esta era a parte fácil. Difícil era educar a mente para evitar as áreas negras em que ela se deleitava em morar. Ela se dera conta que em matéria de armas seu instrutor pouco tinha a ensinar. Afinal, ela aprendera com a mestra de todos eles. Mas seu corpo ainda precisava adestramento para a luta corporal. Matar com as mãos e os pés exigia um esforço para o qual ainda não estava preparada. Mas no uso de facas ou qualquer outro instrumento perfurante ela já se tornara letal. Logo ela estaria pronta.


***


Ingrid passara a tarde fechada na sala de armas, indiferente ao burburinho dos empregados que preparavam a festa do dia 30 de abril. Desmontar as armas, limpar e lubrificar cada peça produziam sempre um efeito calmante desde que pela primeira vez o pai a ensinara. Enquanto trabalhavam, ele contava histórias que tinha ouvido de seu próprio pai e de outros companheiros. Tantas vezes ela as ouvira que quase se diria que as tinha vivido. O pai de seu pai participara da invasão da União Soviética e em Kursk era um dos mais jovens coronéis da Divisão Grossdeutschland. Na sangrenta batalha em Prokhorovka, a maior batalha de tanques da história, ele fora ferido, quase dado como morto, mas sobrevivera e fora levado para sua propriedade na Prússia, onde se recuperara lentamente. Em Prokhorovka, o Coronel Kempft (seu verdadeiro nome, que fora substituído por Müller, em terras americanas), adicionou folhas de carvalho a sua Cruz de Ferro, e Hitler escreveu uma carta pessoal a ele, cumprimentando-o pela sua bravura e liderança em combate. Com o fim da guerra, Kempft emigrou para a América do Sul, onde se estabelecera. Com o botim levantado durante a guerra, ele iniciou a construção da organização que agora sua neta chefiava.


***


Mirtes se ajoelhou diante do santuário de Maria Bueno. Diante dela estava alguém que havia sido sacrificada por ser quem era. Uma mulher, como tantas mulheres no mundo, havia se esgueirado por uma ruela escura, após um dia de trabalho, esperando encontrar um homem no bosque da Rua Vicente Machado, um homem que talvez desse a ela poucos momentos de prazer em uma vida com tão poucos prazeres. Em troca, inúmeras facadas a fizeram entender, alguns segundos antes de morrer, que não havia, naquele pequeno mundo, naquelas pequenas ruas sombrias da aldeia curitibana, espaço para ilusões. A vida era assim, pensou Maria Bueno antes de morrer. Uma mulher nascera para ser escrava e escrava morreria, nas mãos de seu homem, senhor todo poderoso. Mas outras mulheres viriam e de sua fragilidade tirariam a força que as fariam sobreviver em um mundo impiedoso. Elas continuariam a lavar a roupa alheia, como fizera Maria Bueno, ou preparar comida para seus homens, ou dar a eles o prazer efêmero que exigiam. Mas a deusa que a todas protege estaria presente, alimentando a força que as manteriam vivas, dia após dia, iluminando o caminho sombrio. Ela não daria piedade, perdão ou esperança, apenas coragem. Ao coração selvagem indeciso e frágil diria: “Que venham as tempestades. Que venha a vida. Esteja pronta.” A guerra se aproximava, e Mirtes estava pronta. Mas ela não sabia o papel que a deusa reservava a ela. Ela se levantou, e sorriu para o amigo que esperava, silencioso e pensativo. Plínio também não sabia que destino lhe aguardava. Mas ele estava pronto.



FIM DA PRIMEIRA PARTE (continua)



Esta é uma obra de ficção. Os leitores desavisados que se dispuserem a ler (por sua própria conta e risco) estejam advertidos que este Blog não se responsabiliza pelos desatinos do autor. Este suposto romance será publicado em capítulos toda terça-feira. Qualquer semelhança com fatos e pessoas é mera coincidência e não poderá ser imputado ao blog qualquer responsabilidade. A publicação poderá ser interrompida a qualquer momento, caso o autor morra, se suicide ou seja internado por insanidade mental. (Nota do Editor).


Se você deseja reler os capítulos anteriores, a obra completa - até onde foi aqui publicada - estará entre os posts já publicados, bastando você rolar a tela para encontrá-la.




Comments


bottom of page