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MISTÉRIO EM PLATÔNIA

Foto do escritor: Hatsuo FukudaHatsuo Fukuda

Uma aventura do delegado Plínio.


Imagem feita com IA por Canva.



5. PAJELANÇA


A perícia técnica entra em ação. O delegado Plínio recebe uma oferta irrecusável.



O delegado Plínio percorreu os corredores do prédio central recebendo cumprimentos dos colegas. Um velho tira, Ligeirinho, veio falar com ele. “Se precisar é só chamar, Chefe. As coisas andam meio paradas aqui.” Um rosto que nunca sorria, mas confiável. Plínio o conhecia muito bem. Mas não era de homens do gatilho que ele precisava. Na sala do delegado geral já estavam todos: o médico legista, o pessoal da perícia, os especialistas em assuntos vários que o chefe chamara. No telão, o investigador Leonardo e Maíra estavam aguardando, na sala do delegado, o único local da delegacia de Platônia onde poderiam falar sem serem ouvidos pelo resto da cidade. Edivaldo não estava participando da investigação, cuidando de tocar o resto das atividades.


O delegado geral abriu a reunião ressaltando a importância do caso. A imagem da polícia civil estava em jogo, afinal. Todos os esforços necessários para elucidar os crimes seriam tomados. Prioridade máxima para o caso. Todas as equipes técnicas estariam à disposição da investigação.


Plínio comparecera pensando que iria se reunir com o delegado geral e se surpreendera com a reunião, que mesclava chefes dos diversos setores e técnicos. Era uma reunião política, para deixar claro a importância do caso para todos os órgãos policiais, mas também uma reunião de trabalho. O delegado geral assumira o ar policial. Era um hábil político, mas passara a vida em delegacias. Ele sabia o que deveria ser feito, e sabia também que o delegado Plínio era a pessoa certa para o trabalho.


Plínio resumiu o caso. As mortes tinham ocorrido em um intervalo de uma semana. O modus operandi indicava uma única autoria, o que deveria ser comprovado pela balística. As investigações no caso do Dr. Maneco tinham sido inconclusivas. Ele havia se reunido em Curitiba com um grupo de deputados, e a seguir pegara o carro para Platônia, onde chegara por volta de 9 horas da noite. Avisara a mulher, Ingrid, que ficaria na cidade, para uma reunião com o prefeito e cabos eleitorais na manhã seguinte, e não dera mais notícias. O carro em que ele viajara e provavelmente o tinha levado ao rio havia sumido. Sobre a morte de Marcos da New Look ainda nada se sabia.


Os peritos haviam trabalhado sem parar e já tinham os primeiros resultados. O Dr. Maneco tinha recebido todos os tiros à queima-roupa e morrera por volta de 22 horas de sexta-feira. Marcos havia recebido um primeiro tiro à distância, um tiro que deveria tê-lo derrubado, e a seguir os demais tiros a curta distância. As marcas de chumbo nas roupas e no corpo eram conclusivas. Morrera por volta de 21 horas. Todos os tiros haviam sido disparados pela mesma arma, calibre 9 mm, uma Glock, a julgar pela munição empregada. Era uma munição comum, encontrada em qualquer loja do outro lado da fronteira. Os seis tiros (um deles na cabeça) indicavam uma explosão de ódio. A colheita de impressões digitais no local da morte de Marcos nada havia encontrado. O cofre do escritório mostrava digitais de Marcos – somente ele tinha a combinação. O assassino deve tê-lo obrigado a abrir o cofre. Na vitrine nada havia sido encontrado. A cadeira de praia onde o corpo fora colocado só tinha digitais dos funcionários, assim como no escritório.


Plínio escutou tudo admirando a rapidez dos colegas da perícia. Eles deveriam ter trabalhado sem parar, recolhendo digitais dos funcionários e na loja para confrontar com os achados. O médico legista mostrava sinais de ter passado a noite acordado.


Maíra encerrou os relatórios. Todos os funcionários da loja haviam sido interrogados. Eles haviam saído às 18 horas; o gerente da loja às 18:30 horas. Depois de baixar as portas de aço, despedira-se de Marcos que estava trabalhando no escritório, e saíra pela porta lateral fechando a porta. Só havia duas chaves: a dele e a do proprietário. A chave de Marcos fora encontrada na escrivaninha, e o gerente estava com a sua. O assassino tinha uma cópia. As câmeras de vigilância tinham sido desligadas às 18:48, o que era estranho, pois elas permaneciam ligadas 24 horas, podendo ser acessadas pela internet por ele e pelo proprietário. Mas o gerente não as vira durante a noite, sabendo que o chefe lá estava. Os vizinhos foram contactados e nada sabiam. Era uma zona comercial, e todas as lojas da vizinhança haviam fechado por volta das 18 horas. Um comerciante saíra de sua loja às 19:15 e nada vira. O beco lateral estava deserto neste horário.


O delegado geral perguntou se Plínio gostaria de receber reforço. Uma força-tarefa estava pronta para ser enviada a Platônia e ajudar os trabalhos. Mas Plínio recusou, após agradecer a oferta. Era a sua delegacia, e ele não queria um grupo de passagem sobre o qual ele não teria controle. Uma manada de elefantes na loja de louças de Platônia causaria mais mal do que bem. Se necessário eles seriam acionados. Pediu apenas alguns homens para ajudar no dia a dia da delegacia e liberar a sua própria equipe para as investigações. Mas com isso Plínio selou seu destino. O fracasso na investigação seria só dele, e de mais ninguém. O delegado geral, impassível, concordou. Ele conhecia seu homem. “Por sua própria conta e risco”, pensou. Todos ficaram em silêncio.


A reunião terminou. Plínio estava onde havia começado. Num beco sem saída. No escuro. E no meio da tempestade.




Esta é uma obra de ficção. Os leitores desavisados que se dispuserem a ler (por sua própria conta e risco) estejam advertidos que este Blog não se responsabiliza pelos desatinos do autor. Este suposto romance será publicado em capítulos toda terça-feira. Qualquer semelhança com fatos e pessoas é mera coincidência e não poderá ser imputado ao blog qualquer responsabilidade. A publicação poderá ser interrompida a qualquer momento, caso o autor morra, se suicide ou seja internado por insanidade mental. (Nota do Editor).


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