Uma aventura do delegado Plínio.

Imagem feita com IA por Canva.
Capítulo 9
TRALHA DO PESCADOR
Debaixo da mata a trilha era bem definida...
Leonardo e Maíra seguiram pela estrada em direção ao Rio Paraná. Não seria uma tarefa difícil. Pouca gente morava naquele trecho. Em um rancho à beira da estrada, alguns quilômetros do rio, um grupo de índios guaranis vendia bugigangas aos passantes. Eles não falavam português, e se comunicaram mal em uma algaravia de guarani, espanhol e gestos. Eles observaram em silêncio a dupla, os olhos suspeitosos da autoridade e das armas que ambos portavam na cintura. Uns dez quilômetros do local onde o corpo de Maneco fora encontrado eles pararam em um pesqueiro que ficava a umas dezenas de metros da estrada, quase às margens do rio. Era o Tralha do Pescador, local conhecido por Leonardo. O dono sabia da morte, que ajudara a melhorar os negócios. Muita gente passara a vir ao local, atraído pela notícia do corpo furado por balas, mas na noite do assassinato ele nada vira ou ouvira.
O Tralha do Pescador era um barracão com tijolos a vista, uma grande área coberta com telhas de zinco abrigando mesas com toalhas plásticas coloridas, e várias churrasqueiras ao ar livre onde os fregueses poderiam assar carne. Leonardo narrou para o delegado o que tinha conseguido.
- Doutor, sabe que eu sou pescador. E costumo ir a um rancho ali perto do Paranazão, o Tralha do Pescador, onde eles têm tralha de pesca, cerveja e fritam um peixe para a turma. Tem umas mesas espalhadas ao ar livre, quase não tem movimento e a turma fica bem solita e tranqüila. Quem quiser pode levar a carne e assar numa churrasqueira ao ar livre. O dono é meu amigo.
O proprietário era informante de Leo. Que não gostava de pescar. Não tinha paciência. E ele não tinha amigos.
- Ele nos contou uma história antiga sobre um cara que costumava ir lá à noite, com uma menininha que podia ser a filha dele, devia ter uns 11 anos. Esse cara era um professor do colégio, e a menina era aluna dele. Ficavam na mesa mais afastada, perto das árvores, na sombra. Às vezes ele ia sozinho e dizia muito satisfeito que andava comendo a menina. Na maior cara de pau.
Alguns quilômetros à frente, bateram na porta do fabricante de linguiças. João e Maria, os proprietários, tinham uma criação de porcos e os abatiam para fabricar linguiças que depois seriam vendidas em Platônia. Uma plantação de abóboras e um milharal fornecia os alimentos para os porcos. Eram bem conhecidos na região. Sua linguiça era apreciada pelos consumidores. Eles tinham dois filhos, uma garota adolescente e um jovem adulto que os ajudavam. O rapaz não estava lá. O casal nada havia visto ou ouvido na noite do crime. Eles dormiam cedo e acordavam cedo, numa rotina rural. A menina também nada sabia. Nada perturbara a família naquela noite.
O rapaz chegou em seguida. Mateus era um jovem de ar rústico, magro e rígido, com um corpo de alguém acostumado a trabalhos braçais. Ele tinha uma barba incipiente, cabelos despenteados e um ar casmurro. Ouviu as perguntas e respondeu com monossílabos: “sim”, “não”, “hã”, gestos de cabeça. Ele não pretendia participar do concurso de Miss Simpatia de Platônia. Mas também nada sabia. Leonardo perguntou sobre a namorada, Irina. Ele aparentou surpresa.
- Não tenho namorada.
Leonardo sabia que não era verdade. Ele tinha sido visto várias vezes na Fazenda Dois Irmãos, em companhia de Irina. Deixou passar. Ele retomaria o assunto, se necessário.
Enquanto Leonardo conversava com Mateus, Maíra percorria a propriedade com o casal, João e Maria. Eles mostraram o galpão onde as linguiças eram fabricadas, o chiqueiro dos porcos, a pequena plantação de milho e abóboras. Nos fundos do galpão, Maíra observou o milharal e viu, além da mata, um pequeno morro em que se destacava um enorme flamboyant, dominando uma suave curva do Rio Paraná. O sítio era vizinho ao local do assassinato de Maneco.
Maíra percorreu a trilha que se iniciava logo após o milharal. Debaixo da mata a trilha era bem definida, como se animais a percorressem, no caminho do rio. Em poucos minutos ela chegou ao morro e se deparou com a majestade do Paranazão, observado pelo gigantesco flamboyant.
No carro, Leo e Maíra trocaram informações. Ambos pensaram a mesma coisa, mas, investigadores tarimbados, guardaram a conclusão no fundo da mente. Maíra mudou de assunto.
- Gosta de dançar? Eu adoro dançar.
Quando Maíra reportou ao delegado, foi incisiva.
- Levei cinco minutos para chegar ao morro. A mata densa amortece os ruídos. Dei uns tiros no local, e Leonardo nada ouviu, enquanto conversava com Mateus.
Esta é uma obra de ficção. Os leitores desavisados que se dispuserem a ler (por sua própria conta e risco) estejam advertidos que este Blog não se responsabiliza pelos desatinos do autor. Este suposto romance será publicado em capítulos toda terça-feira. Qualquer semelhança com fatos e pessoas é mera coincidência e não poderá ser imputado ao blog qualquer responsabilidade. A publicação poderá ser interrompida a qualquer momento, caso o autor morra, se suicide ou seja internado por insanidade mental. (Nota do Editor).
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