RÉGIS TOMA CAFÉ DA MANHÃ
- Hatsuo Fukuda

- 31 de out.
- 2 min de leitura

Um canteiro de espinheiros na frente de um prédio, manicurado por um jardineiro hábil, tinha o formato de uma cadeira. Fui informado que um morador de rua costumava sentar ali, e o espinheiro tomou a forma de um assento.
Em minhas caminhadas, às vezes eu o via, circulando pela quadra, e notei que ele nunca saia dela. Depois, soube que era praticamente cego, o que explicava sua aderência ao local.

Nos finais de ano costuma sumir, e quando retorna, volta com o cabelo e a barba aparados, com roupas limpas, e um ar jovial.
A família o recolhe, mas ele sempre retornará ao seu local habitual, na Rua Francisco Torres, quase esquina com Rua XV de Novembro, onde costuma ficar sentado, normalmente solitário, eventualmente acompanhado de um amigo ou dois.
Mas evita os craqueiros. Estes são confusão, e Régis gosta de tranquilidade.
Um amigo contou-me que às vezes dá a ele um baseado, que ele fuma, tranquilo, encostado na parede onde antes funcionava o Diário Popular.
Contou-me que seu nome foi dado em homenagem a Régis Bitencourt, nome da rodovia onde seu pai trabalhara.

É o nosso homeless, e a vizinhança costuma comprar comida e bebida na padaria Rico Pão, na esquina da Francisco Torres com Marechal Deodoro, e deixar no caixa. Mas ele não gosta de Coca-Cola, informa a funcionária.
Daríamos a ele muito mais, se ele fosse um homem interessado em receber.

Eu o vi de manhã, acompanhado das amigas pombas, e, homem do mundo tecnológico, peguei o celular e violei sua intimidade; pior ainda, publico-o.
Não deveria publicar, mas superficialmente, justifiquei a intrusão com a desculpa que a rua é pública e aquilo que nela acontece não está protegida pelo direito à intimidade.
Francisco de Assis se incomodaria se seus ouvintes o fotografassem e divulgassem seus sermões no Facebook?
A trilha sonora é Brother Sun, Sister Moon, do filme de Zeffirelli. Veja aqui.
Hatsuo Fukuda

Hatsuo Fukuda é um caminhante curitibano sem eira nem beira.










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