O tempo passa, mas nem tudo muda.
Imagem de Folha - UOL
E novamente é tempo de eleições em Curitiba. Os cavaletes retornam à Rua das Flores, as pessoas fazem um bico entregando santinhos e panfletos, o carro de som não apregoa mais o sonho de nata ou a pamonha. No vidro traseiro dos carros pessoas mais convictas deixam clara suas preferências políticas. Pessoalmente sempre invejei tanta convicção: nunca encontrei um candidato de quem gostasse ao ponto de franquear-lhe o vidro traseiro do meu carro.
Os anos, décadas, séculos passam. Mas alguns hábitos permanecem. Claro, os costumes e os maus costumes tornam-se sofisticados pela tecnologia. Vejam o péssimo hábito de difamar o adversário político. Nos séculos anteriores recorria-se aos panfletos anônimos, papeluchos cheios de veneno e maledicência que eram distribuídos nas ruas, pregados em postes e lançados dos bondes. Hoje, a difamação tornou-se etérea, correndo anônima por fibras óticas, dispersa na rede, atingindo muito mais pessoas que o político de má fé do passado jamais poderia imaginar.
Outro hábito que vem do passado - este bem mais inocente - é a utilização de rimas para tentar capturar a memória do eleitor. De longe, muito longe, bem pra lá dos nossos avós, vem esse curioso costume. Atualmente está meio em desuso. Não sei se os marqueteiros não confiam mais na capacidade das rimas em conquistar eleitores ou se a capacidade de rimar está se perdendo. Sinto falta da singeleza das rimas, ricas, pobres ou imperfeitas, disputando espaço na cabeça das pessoas. Cito por todos candidatos a vereadores de Curitiba, o singelo exemplo abaixo:
Com Wanda o povo é quem manda.
Ou a rima imperfeita do bordão de um dos favoritos a assumir a prefeitura:
Eduardo! Tá preparado!
Também os jingles estão em baixa. Pelo que tenho acompanhado, só a candidata Maria Vitória está apostando na força de um jingles bem animado:
Olha ela aí, Maria, Maria, Maria Vitória!
É certo que um jingles não ganha eleição. Mas alguns tornam-se eternos - a eternidade possível num planeta que um dia será engolido pela sua estrela. Requião, por exemplo, faria bem em ressucitar seu jingles de outras campanhas, defendido na bela e forte voz de Rogéria Holtz. E seria bom ouvir um jingles impactante como aquele que levou o José Eduardo de Andrade Vieira ao Senado:
Com muita coragem, de pioneiro...
O resultado do trabalho do Senador já foi esquecido há muito. O jingles não.
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