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A terrível história de alguém que nasceu, cresceu e viveu num campo de concentração...
Imagem de press 👍 and ⭐ por Pixabay
Você consegue imaginar, em pleno Século XXI, um país que possui campos de concentração para prisioneiros políticos e “inimigos do regime” onde há trabalhos forçados, torturas e execuções sumárias? Pode imaginar um país onde mais de 200 mil pessoas estão presas sofrendo nestes campos de concentração? E conseguiria acreditar que há crianças sendo criadas nestes campos de concentração, sofrendo as mesmas regras de punição e violência? Bem, não precisa imaginar. Este país é a Coreia do Norte, o regime mais fechado e cruel existente no Planeta Terra.
Fuga do Campo 14 é uma grande reportagem, cujo autor é o jornalista americano Blaine Harden. O trabalho é fruto de uma série de entrevistas feitas com Shin Dong-hyuk, até hoje considerado o único homem a escapar de um campo de concentração norte-coreano de segurança máxima. O que há de mais extraordinário na história de Shin é que ele nasceu no campo 14, fruto de um relacionamento entre dois prisioneiros políticos. Na Coreia do Norte, os filhos de presos políticos pagam pelos supostos crimes dos pais. Ou seja, estão condenados, antes de nascer, a uma vida de trabalho, suplício e sofrimento.
A Coreia do Norte é a mais dura ditadura do mundo. O regime de ditador Kim Jong-un - que sucedeu seu pai Kim Jong-Il - mantém campos de concentração desde a década de 50. Se os campos de concentração nazistas duraram cerca de três anos, os campos de concentração na Coreia do Norte já ultrapassam 60 anos de existência. Há pessoas, portanto, que nascem, crescem e morrem no campo de concentração, sem sequer tomar consciência de que além das cercas eletrificadas há um mundo completamente diferente.
Desde pequeno, Shin aprendeu a obedecer aos guardas sem qualquer questionamento, aprendeu a delatar amigos e familiares por qualquer atitude que fugisse aos rígido regramento do campo. Na escola - onde os professores eram guardas - aprendeu apenas duas verdades: a Coreia do Norte é um país grandioso onde todos são felizes; você, filho de prisioneiros políticos, paga pelos pecados de seus pais, porque seu sangue é impuro. Castigos, execuções e sofrimentos impostos pelos guardas eram encarados com normalidade, faziam parte da rotina. Assim como a fome, a falta de higiene e a rotina de doze horas de trabalho.
Shin foi forçado a contemplar a execução de sua mãe e de seu irmão mais velho, pelo crime de tentar fugir. Ele mesmo foi preso e torturado em função da tentativa fracassada dos familiares - e era apenas um adolescente. Na prisão, pelo contato com outro prisioneiro, pela primeira vez recebeu alguma informação sobre a existência de um mundo exterior, com países que vivem uma realidade completamente diferente. Anos mais tarde, trabalhando numa tecelagem de uniformes militares existente dentro do campo, conheceu outro preso. Com ele também ouviu falar de outros países, países onde não havia fome, onde você era pago pelo seu trabalho e livre para decidir sobre sua própria vida. Tais notícias eram, para alguém que cresceu dentro do campo, extraordinárias. E plantaram a semente da ideia de fugir do pesadelo do Campo 14.
Shin conseguiu fugir, algo muito raro, somente possível por uma conjunção de fatores e de muita sorte. Há muitos outros fugitivos da Coreia do Norte, mas são pessoas que atravessam a fronteira com a China porque estão passando fome ou em busca de oportunidades. Pouquíssimos são prisioneiros políticos evadidos de campos de concentração. E apenas Shin fugiu de um campo de segurança máxima.
O livro narra toda a sua rotina no campo de concentração, os eventos que possibilitaram sua fuga bem sucedida e seus esforços para se adaptar no mundo livre, a princípio na Coreia do Sul, depois nos Estados Unidos da América. Em função de sequelas físicas e psicológicas, deficiências pela subnutrição e decorrentes das torturas, a adaptação de Shin é um processo longo e difícil que ainda não se completou.
No meio do livro, faz-se uma revelação terrível, que comprova todo ambiente paranoico dos campos de concentração. Fuga do Campo 14 é um libelo contra o regime de Kim Jong-un; uma reportagem dura como um golpe de porrete na nuca; dilacerante como um corte de faca na palma da mão. Quanto mais soubermos sobre a violência e a desumanização do regime norte-coreano, maiores as chances de que uma comoção mundial finalmente ponha termo ao martírio.
Fuga do Campo 14
Editora Intrínseca, 2012, 230 páginas, tradução de Maria Luiza X. de A. Borges
Talvez seja mais fácil encontrar em sebos ou em sites especializados.
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