GRANDES POEMAS DA NOSSA LÍNGUA
- Manuel Rosa de Almeida
- 13 de dez. de 2020
- 1 min de leitura
A língua portuguesa tem pérolas esquecidas, espalhadas em velhos livros já não lidos. Hoje resgatamos Guilherme de Almeida…

Imagem de FrankGeorg por Pixabay
ARTE DE AMAR
Olha aquela fonte agitada:
como é verde quando escorre sobre os musgos;
e como é prateada
quando se encrespa sobre a areia e os seixos bruscos;
e como é de ouro quando desliza sobre
as folhas mortas de que o outono soube
fazer flores de fogo frio à flor da terra…
Pela boca múltipla das águas, aquela
fonte, um dia, falou-me assim: -- “Modela
“por mim o teu amor! E que ele tome, como
“eu tomo,
“a cor do leito em que dorme;
“e seja vário e multiforme
“para que se amolde e caiba,
“como a água cabe, em qualquer vaso, e que ele cante
“constantemente, como eu canto, um canto verde;
“e que ele mate qualquer sede;
“e que ele saiba
“possuir a sua amante
“inteiramente, envolvendo-a como a água envolve
“o corpo da deusa ligeira que se atreve
“a banhar-se, e que, em minha mão líquida e móvel,
“ainda fica mais leve!”
Guilherme de Almeida, o Príncipe dos Poetas, membro da Academia Brasileira de Letras, falecido em 1969.
Toda a Poesia, Tomo IV - Livraria Martins Editora S.A, São Paulo, 2ª Edição, 1955.
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