A língua portuguesa tem pérolas esquecidas, espalhadas em velhos livros já não lidos. Hoje resgatamos Encomenda, poema que poderia simbolizar a poesia de Cecília Meireles.
ENCOMENDA
Desejo uma fotografia
como esta — o senhor vê? — como esta:
em que para sempre me ria
como um vestido de eterna festa.
Como tenho a testa sombria,
derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.
Não meta fundos de floresta
nem de arbitrária fantasia...
Não... Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia.
Cecília Meireles ( 1901/1964 ), jornalista, escritora, professora, pintora, mas sobretudo poeta. Talvez a maior poetisa brasileira. Encomenda foi publicado pela primeira vez no livro Vaga Música, de 1942.
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