A língua portuguesa tem pérolas esquecidas, espalhadas em velhos livros já não lidos. Hoje seguimos com um poeta querido e próximo a todos nós: Mário Quintana. Escolhemos Seiscentos e Sessenta e Seis um poema que fala do tempo e de se perder nele.
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SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo… Quando se vê, já é 6ª-feira… Quando se vê, passaram 60 anos! Agora, é tarde demais para ser reprovado… E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade, eu nem olhava o relógio seguia sempre em frente…
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
Mário Quintana ( 1906/1994 ), poeta gaúcho muito querido pela simplicidade e sensibilidade. Seiscentos e Sessenta e Seis foi publicado em 1980, como parte do livro Esconderijos do Tempo. Quintana era um solitário que morava em hotéis de Porto Alegre. Três vezes a Academia Brasileira de Letras negou-lhe a indicação para uma cadeira. Uma injustiça grave numa instituição que abriga muita gente menos talentosa.
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