A língua portuguesa tem pérolas esquecidas, espalhadas em velhos livros já não lidos. Hoje encerramos a série com Vinícius de Moraes, um dos poetas brasileiros que melhor falou de amor. Vinícius era um grande letrista, singelo e profundo ao mesmo tempo, acessível ao grande público. Concluímos nossas homenagens ao poetinha com um poema singelo, mas tão cheio de sentido/sentimento que somente poderia ter sido batizado de Ternura.
TERNURA
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.
Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes ( 1913/1980 ). Cumpriu inúmeros e diversos papéis, de diplomata a poeta, de jornalista a compositor, passando por dramaturgo e cantor. Em parceria com Toquinho, compôs, talvez, os melhores sambas da música brasileira. Em parceira com Tom Jobim compôs uma das músicas mais famosas no mundo: Garota de Ipanema. Na poesia notabilizou-se por seus sonetos. Ternura é da primeira fase do poeta, escrito em 1938. Fala da mais pura forma de amor, toda ela êxtase, paz e doação.
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