A língua portuguesa tem pérolas esquecidas, espalhadas em velhos livros já não lidos. Hoje iniciamos uma série para homenagear uma grande poetisa paranaense: Helena Kolody. A professorinha que iniciou a carreira no interior do Estado, tornou-se uma expressão da poesia paranaense. Como primeira poesia da série, escolhemos Maquinomem.
Imagem de G1 - Globo
MAQUINOMEM
O homem esposou a máquina e gerou um híbrido estranho: um cronômetro no peito e um dínamo no crânio. As hemácias de seu sangue são redondos algarismos.
Crescem cactos estatísticos em seus abstratos jardins.
Exato planejamento,
a vida do maquinomem. Trepidam as engrenagens no esforço das realizações.
Em seu íntimo ignorado, há uma estranha prisioneira, cujos gritos estremecem a metálica estrutura; há reflexos flamejantes de uma luz imponderável que perturbam a frieza do blindado maquinomem.
Helena Kolody ( 1912 - 2004 ), poetisa paranaense nascida em União da Vitória. Professora por profissão ( lecionou por 23 anos no Instituto de Educação de Curitiba, depois de ter lecionado em Jacarezinho e Ponta Grossa ), poeta na alma. É uma das expressões da poesia paranaense. Seu primeiro livro foi Paisagem Interior, de 1941. Sua especialidade era o haicai. No poema de hoje, um protesto contra o homem que sucumbe às exigências do mundo moderno e do sucesso.
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