A Revolução é um baile popular, alegrado por mariachis.
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Um amigo me convida para ir a uma manifestação de protesto. Declino, embora simpatize, em parte, com os objetivos. Há muito tempo deixei de lado meus arroubos patrióticos ou revolucionários. Para encorajá-lo, preparo uma lista de canções para animar a turma. Não há revolução sem canções, sem dança, esta é uma verdade universal. E, cachaceiro inveterado, acrescento, não há revolução sem o cerimonial báquico, na forma de tequila, de vodka, de cerveja, de vinho, uísque, ou cachaça.
A revolução é uma festa. Era, pelo menos.
Na esteira dos exércitos de Pancho Villa e Emiliano Zapata uma multidão de mulheres, comerciantes e simpatizantes os acompanhavam. Além das mulheres guerreiras (foram muitas), mães, irmãs, amigas, namoradas, amantes, profissionais do sexo, e, naturalmente, mariachis. Nas longas noites que antecediam as marchas, nos acampamentos improvisados ou nas cidades e vilas tomadas, soldados cansados, sedentos e famintos precisavam ser alimentados, dessedentados e aliviar as dores das batalhas. Haja tequila, haja mulheres, haja tortillas, tacos, chilli e canções.
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A música popular mexicana, feita por um bando de camponeses sedentos de justiça, e destinada a alegrar as noites nas vésperas da batalha, era alegre, amorosa, dançante, e, por isso mesmo, ganhou o mundo e algumas se tornaram clássicas. Devidamente domesticada para agradar as plateias que nada tinham de revolucionárias (pelo contrário), entraram nas noites de jantares dançantes em vozes aveludadas como a de Nat King Cole e milhares de outros.
Se Adelita se fuera con outro/la seguiria por tierra o por mar/si por mar en un buque de guerra/si por tierra en um trem militar/Y si acaso yo muero em la guerra/Y mi cadáver lo van a sepultar/Adelita por Dios te lo ruego/Que por mi no vayas a llorar.
Uma das canções diz:
La cucaracha, la cucaracha/Ya no puede caminhar/porque no tiene, porque le falta/Marijuana que fumar.
Devidamente expurgada das menções à erva maldita, transformou-se em um grande sucesso mundial. Cada intérprete produz sua própria versão. É (ou sempre foi) uma obra aberta.
E os corridos que exaltavam os grandes heróis revolucionários? Pancho Villa e Emiliano Zapata eram idolatrados e os mariachis não perdiam tempo em cantar os seus feitos, e depois, suas mortes.
Os corridos não mentem, mas estão enganados. Pancho Villa e Emiliano Zapata continuam vivos.
No Youtube você encontrará vídeos (alguns longos) com a trilha sonora da Revolução Mexicana. Várias canções, como Adelita e La Cucaracha entraram no standard musical internacional. Aquilo que era diversão de camponeses guerreiros tornou-se entretenimento popular mundial. Vale a pena ouvir a origem. Nela há um encanto que nunca se perderá. Entre tequilas, tortillas e mariachis. No lugar do corrido revolucionário temos hoje o narcocorrido. Os heróis revolucionários foram substituídos pelos chefões do tráfico. Não sem motivo. Pancho Villa começou como um bandido, adquirindo fama como um Robin Hood mexicano; a seguir, tornou-se um líder revolucionário.
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