Caminante, son tus huellas el caminho, y nada más; caminante, no ho hay camino, se hace camino al andar. Al andar se hace caminho, y al volver la vista atrás, se ve la senda que nunca se há de volver a pisar. Caminante, no hay caminho, sino estelas en la mar.
Imagem de Canção Nova Notícias.
Leio nos jornais artigos sobre a peregrinação dos romeiros ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida (escrevo no dia 12 de outubro, Dia de Nossa Senhora Aparecida). Ao que parece, ano após ano, tem aumentado o número de caminhantes na Via Dutra. Eles eram 10 mil em 2017, neste ano serão 50 mil. E há aqueles que chegam por outros caminhos, por diversas rotas vindas do interior: a Rota da Luz, que sai de Mogi das Cruzes, o Caminho da Luz, o Caminho de Aparecida, que sai de Alfenas, e o Caminho da Fé, a partir de Águas da Prata. Mais difícil é este que os caminhantes fazem, seguindo pela Via Dutra, ao lado de carros e caminhões, longe do contato com a natureza que outros caminhos propiciam.
Alguns caminham pela fé – devem ser a maioria -, outros buscam saúde – caminhar é uma unanimidade entre os médicos. Se você não crê, caminhe em busca da saúde. Se você é um ateu empedernido, e um crente na religião da ciência, deve saber que caminhar faz parte da receita de todos os influencers fitness.
Um profeta da raça – um dos maiores e dos mais filosóficos – Gilberto Gil, canta:
Andar com fé eu vou/A fé não costuma falhar
Mesmo a quem não tem fé/A fé costuma acompanhar
Pelo sim, pelo não
Um amigo anunciou que faria o Caminho da Fé, por quinze dias. Gostaria de acompanhá-lo, mas as eternas razões mundanas me impedem. Sei que o trabalho, os problemas familiares, a eterna falta de dinheiro, nada disso deveria impedir um caminhante de seguir o caminho. Mas impedem. Paro para pensar e digo a mim mesmo que quando estiver morrendo, um dos meus arrependimentos na vida será o de não ter feito as grandes caminhadas disponíveis no mundo: o Caminho de Santiago, a subida a Machu Pichu, a trilha em direção ao Campo Base no Everest, a subida ao Monte Fuji, o Parque Torres del Paine, no Chile (quem esteve lá diz que é o lugar mais lindo da terra), a subida do Aconcágua, a Appalachian Trail, nos Estados Unidos.
Enquanto isso, me contento com as caminhadas disponíveis na nossa terra, mais próximas e disponíveis para os pobres: a subida ao Pico Paraná (PP para os íntimos), o Caminho de Itupava. São ótimas caminhadas, e o contato com a Serra do Mar em estado quase intocado é um grande remédio para as chatices da vida. Ultimamente, minhas únicas caminhadas tem sido as de observador da cidade, um flaneur leite quente, fugindo aos perigos da vida urbana curitibana. Eu, como ser urbano e sedentário que sou, gosto. E, depois de evitar um assalto na Rua XV, sempre há o prazer de entrar no Bar do Cachorro e rir com o gerente.
Hoje acordei com a chuva forte batendo na vidraça. Na cozinha, preparando meu café, vejo pela janela um bem-te-vi parado no prédio ao lado. Ele olha para mim, indiferente, e segue seu caminho, à procura de um abrigo. Agradeço a Deus por mais um dia, agradeço pela visão do pássaro, e rezo para que os romeiros, em suas caminhadas, reúnam forças para continuar a jornada debaixo da chuva.
O Caminho de Itupava, no estado em que se encontra, atrai pelo menos dois mil caminhantes por ano. Se fosse tratado como deveria ser, seria uma das maiores atrações turísticas do Paraná. Uma sugestão para os tecnocratas. Já que não se preocupam com a natureza, pensem no dinheiro que o Estado está deixando de ganhar. Não é uma trilha fácil. Sedentários não devem se aventurar por lá. E há o problema da segurança. Eu e meus amigos deixamos de frequentá-la, com medo dos assaltos. A epígrafe é de Antonio Machado, o grande poeta espanhol.
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