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Foto do escritorManuel Rosa de Almeida

LOBATO: PERSONALIDADE DA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX

Recomendação de leitura


Ele foi muito mais que um gênio da literatura infantil.


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Se quando você ouve o nome Monteiro Lobato pensa apenas em Emília, Pedrinho, Narizinho e todos personagens do Sítio do Picapau Amarelo, você sabe muito pouco sobre este importante personagem da nossa história. Mês que vem comemoraremos o 140º aniversário de seu nascimento e sempre é momento para lembrar os vultos nacionais que merecem homenagens.


Lobato foi um pouco de tudo nos primeiros 50 anos do século XX. Empreendedor, visionário, escritor, crítico… Em tudo que de importante aconteceu no Brasil daquela época havia a presença, seja pela crítica, seja pela influência, seja pela publicação, de Monteiro Lobato.


Como empreendedor, tentou de tudo: fazendeiro, exploração de petróleo, editor. Por muitos anos foi um dos editores mais importantes do país. Mas seus negócios sempre acabaram mal, mesmo o do mercado editorial. Não que fosse incompetente, mas não sabia jogar com as malandragens e cinismo que os empreendimentos exigiam.


Era, afinal e antes de tudo, um idealista. Empenhou-se apaixonadamente na campanha da siderurgia e da exploração de petróleo, escrevendo textos candentes na imprensa da época. Percebia, já então, a importância estratégica do desenvolvimento da indústria metalúrgica e da autonomia energética.Claro, granjeou com isso muitos inimigos e até foi preso pelo Estado Novo.


Como escritor foi contista de mão cheia. Urupês é, até hoje, uma obra referencial da literatura brasileira. A literatura infantil veio quase que por acidente. Como editor, percebeu que as crianças brasileiras não tinham obras capazes da cativá-las, transformando-as em leitoras assíduas. O que havia no mercado era, no seu entender, muito chato. Empenhou-se, então, em criar um mundo de sonhos e o fez no Sítio do Picapau Amarelo. Todos personagens que criou cumprem um papel importante, não só na sua literatura, mas na sua pregação ( que, a rigor, não abandonou nunca ). Emília é o espírito indômito, que fala tudo que pensa; o Visconde é a voz e a autoridade da ciência; Dona Benta e Tia Nastácia são o aconchego e o amor que os pequenos precisam; Narizinho e Pedrinho são os próprios leitores vivendo aventuras…


Muitas críticas podem ser feitas a Monteiro Lobato, menos a falta de autenticidade. É preciso entender o homem, mesmo em seus defeitos e deslizes. Vejamos:


* Era dominado, sim, por um americanismo pouco crítico, incensando o american way of life e figuras controversas como Ford;


* Por vezes teve uma visão equivocada sobre o brasileiro pobre e caipira, como na sua imagem do Jeca Tatu ( que depois redimiu, entendendo que o Jeca não era preguiçoso, mas incapacitado por doenças e poucas oportunidades );


* Entrou em conflito com os modernistas e com alguns eventos da histórica Semana de Arte Moderna de 1922. Quando criticou a obra de Anita Malfatti, não foi, em absoluto, a voz de um leigo. Lobato era artista e pintava obras de qualidade, sobretudo aquarelas. Entendia do assunto, portanto. Reconheceu o mérito técnico da artista, mas não engoliu a nova tendência. Apesar do imenso debate, era respeitado pelos modernistas, sobretudo por Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia ( a quem publicou muitas vezes );


* Escreveu, de fato, alguns textos questionáveis acerca da questão racial, que fizeram alguns verem nele o preconceito. A estes respondo: não! Impossível! Leia o conto Negrinha e diga se pode ter sido escrito por uma pessoa preconceituosa… Mesmo O Presidente Negro e personagens como Tia Nastácia e Tio Barnabé devem ser lidos pela correta perspectiva. Aquela que situa o homem no seu tempo e conhece profundamente sua luta, seu pensamento.


Para todos que desejarem conhecer Monteiro Lobato mais de perto e fazer seu próprio julgamento, recomendo sua biografia: Monteiro Lobato - Furacão na Botucúndia. Uma obra importante e completa, que aborda todas estas facetas. Além disso, muito bem escrita e premiada com o prêmio Jabuti.


Monteiro Lobato - Furacão na Botucúndia - Ed. Senac - São Paulo 1997. Obra de Carmem Lúcia de Azevedo, Márcia Camargo e Vladimir Sachetta.


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