Verdades incontestáveis que o vento não levou.
Duas semanas depois do início das filmagens de “E o Vento Levou”, o grande diretor George Cukor, após dois anos trabalhando com David Selznick na pré-produção, foi demitido e substituído por Victor Fleming. Desde o início, Selznick via o filme como a história de uma mulher de espírito, e nada mais adequado que filmá-la sob a direção de um homem que as conhecia melhor do que ninguém (basta ver a sua filmografia, recheada de grandes obras em que brilham mulheres na tela).
Mas no decorrer do processo, cresceu em Selznick a visão de um grande épico, e Cukor já não parecia ser a melhor opção. Além das habituais divergências entre Cukor e Selznick, havia a amizade do leading male, Clark Gable, com Victor Fleming. Ambos eram dados a rodadas de pôquer e bebidas com os amigos, eram motoqueiros e mulherengos. Este havia criado uma reputação em Hollywood em filmes de ação. Gable queria Fleming, e este foi chamado, e Cukor seguiu sua carreira.
Assistindo as espetaculares cenas do incêndio de Atlanta, ninguém duvidaria da sabedoria de Selznick. Muito da eletricidade que o filme gera é fruto da natureza épica do filme, embora a duradoura lembrança sempre será a da irresistível força da natureza representada por Scarlet O’Hara. Ela pronunciou a mais definitiva das frases que um amante deve se lembrar, ao final de um romance:
“Amanhã pensarei no assunto.”
Fleming, macho com H, não era dado a sutilezas interpretativas. Para estas, as atrizes se socorriam com Cukor, que as recebia com chá nos finais de semana, onde conversavam, informalmente, no decorrer das filmagens. Conta-se – e isso mostra que também não entendia de negócios – que Fleming recusou a proposta de Selznick para receber em percentagem de bilheteria, acreditando que o filme seria um fracasso.
“Você deve achar que eu sou um idiota. Este filme vai ser um dos maiores elefantes brancos de todos os tempos.”.
E o Vento Levou foi a maior bilheteria de todos os tempos (valores ajustados pela inflação).
Mas a principal contribuição de Fleming à história do cinema, na minha opinião, não é esta. Ele tinha grandes atores e atrizes; tinha a mais suntuosa, rica e detalhista produção talvez já vista em Hollywood, acompanhada maniacamente por Selznick – o verdadeiro auteur do filme – mas imortalizou-se ao enunciar a frase, apontando para os peitos de Leigh:
“For God’s sake, let me see some boobs!”
Trata-se de uma lei permanente em Hollywood, e seguida por cineastas em todo o mundo. Esta frase, que, em honra ao autor, eu chamaria de Lei Fleming (ele não a inventou, como Newton não inventou a gravidade), tem sido seguida desde então com a inevitável regularidade com que o sol nasce a Leste e se põe a Oeste.
Mostrem os peitos, garotas. É disso que os rapazes gostam.
O ano de 1940 foi um grande ano para o Oscar. Os concorrentes a melhor filme: O Mágico de Oz, Mr Smith Goes to Washington, Adeus Mr. Chips, Stagecoach, Love Affair, Ninotchka, O Morro dos Ventos Uivantes, Dark Victory, Of Mice and Men. Não assisti o último (falha minha); quanto aos demais, merecem ser assistidos dez vezes pelo menos. E o Vento Levou foi indicado para 13 Oscars, levando oito, inclusive melhor filme, melhor atriz, melhor atriz coadjuvante, melhor diretor, roteiro, cinematografia, direção de arte e edição. Just Watch aponta que o filme está disponível para alugar no Google Play por R$ 7,90. Uma pechincha.
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