A estátua de Confúcio, de autoria de Wu Weishan, o mais importante escultor chinês, é uma das jóias da cidade, e está no Centro Cívico ao ar livre para quem quiser ver.
Imagem de Circulando por Curitiba
Circulo pelo Centro Cívico, no sábado à tarde. Nos finais de semana toda a região se transforma em um ótimo local para caminhadas. Pode-se chegar lá pela ciclovia que margeia o Rio Belém, que viaja a céu aberto até a Avenida Cândido de Abreu, próximo ao fórum. Neste trecho o rio está arborizado e é um agradável passeio – se você não for assaltado, claro. Mas como não tenho tido notícias de assaltos na região, suponho que ainda seja possível caminhar às margens do outrora piscoso Rio Belém. Embora poluído – não se vê lambaris no rio, sinal infalível de limpeza das águas (da ausência de limpeza, no caso) – pode ser percorrido sem ofensa às narinas dos passantes.
Na Praça Nossa Senhora de Salete paro para cumprimentar a santinha. Algumas flores a homenageiam. Aproveito para admoestá-la, pois silenciosa e inefável, nada faz para interromper os maus labores daqueles que deveriam cuidar de seu povo, hospedados no palácio em frente. Ela sorri, e permanece inescrutável. Com certeza ela é mais sábia do que eu. Mas não sou ingrato, e agradeço a ela por mais um dia. Obrigado, Maria.
Muita gente na praça frondosa. Famílias à sombra das árvores aproveitam o final de semana. Um casal de gaúchos toma chimarrão. Um solitário carrinho de garapa aguarda a freguesia.
Adiante, o grande mural de azulejos comemorativo da viagem de Cabeza de Vaca até as Cataratas do Iguaçu, criado por Rogério Dias e executado por Lycio Esmanhoto. Em frente ao mural de Rogério Dias, no meio da rotatória, em uma cama de flores vermelhas, Confúcio me observa.
Fico me perguntando por que o nosso prefeito, um homem culto e lido, um dos raros homens públicos que sabem ler e escrever na Terra dos Papagaios, colocou a estátua sitiada pelos carros na rotatória da Rua Mário de Barros. Sitiado permanentemente, pois durante a semana o movimento de carros é constante, e durante os finais de semana, o movimento no Museu Oscar Niemeyer e adjacências é maior ainda. A muvuca no museu e no entorno é enorme. O movimento na rotatória não pára, o que impede os caminhantes de se aproximarem da estátua.
Talvez o prefeito tenha se preocupado com os pruridos dos homens públicos que frequentam a Praça do Centro Cívico? Os ilustres membros da elite política poderiam se sentir melindrados com a imagem austera de Confúcio? A estátua de Nossa Senhora, menor e menos imponente, foi colocada em uma posição discreta, de modo a não ofender as sensibilidades palacianas. Onde ela está, observa os palácios, mas não é observada. Confúcio tem a imponência que a cultura chinesa requer de um dos seus founding fathers (talvez o maior deles). Colocado em frente ao Palácio Iguaçu talvez ajudasse a iluminar os seus ocupantes – e os dos palácios vizinhos – ou pior, os deixariam com a consciência culpada?
Imagem de Hatsuo Fukuda
Ele gostava de histórias, aforismos e poesia. Certa vez, disse: “A ignorância é como uma noite negra, onde não há lua, não há estrelas.” Um velho sábio chinês.
Então, talvez tenha sido essa a justificativa do nosso sábio e culto prefeito. Melhor deixar Confúcio, com seus ensinamentos, cercado pela fumaça dos carros e ignorado por todos. Não vamos perturbar os nossos dirigentes com pensamentos virtuosos. Vai que alguém resolve segui-lo e o Paraná se transforme em uma Terra de Todas as Gentes?
Mas não é necessário se preocupar. A China levou quatrocentos anos para estabelecer Confúcio como guia do Estado e da sociedade. Seus ensinamentos foram, pouco a pouco penetrando nas mentes e corações do povo e de suas elites. Ora, Jesus Cristo chegou nestas plagas há mais de quatrocentos anos e ainda continua ignorado.
Deixa pra lá.
Wu Weishan, o escultor, já fez mais de quinhentas esculturas. Ele é um dos mais importantes artistas da China, e é curador do Museu Nacional de Arte da China. Suas obras estão espalhadas por todo o mundo. Alguns dizem que suas obras representam o espírito da nova China. É um privilégio nosso ter uma de suas obras a céu aberto, em pleno Centro Cívico (apesar do isolamento). É ótimo caminhar no Centro Cívico, nos finais de semana. Bom passeio.
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