O que foi, realmente, o governo de Jair Bolsonaro?
Imagem de: www.slon.pics / Freepik
Dizem que o brasileiro tem memória curta. Agora, na perspectiva de uma eleição presidencial, a falta de memória é problema sério que traz graves consequências. Para refrescar lembranças do que foi a gestão de Jair Bolsonaro, passamos a republicar - todo domingo - comentários sobre este governo.
Assim, você poderá avaliar toda a trajetória deste governo ( ou desgoverno ). Quando outubro chegar, com os fatos recolocados, você pode formar seu julgamento. E se quiser reconduzir Jair Bolsonaro ao poder, é decisão e responsabilidade sua.
Prosseguimos com a queda do primeiro Secretário de Cultura, num episódio patético e dantesco de apologia ao nazismo.
O MENOS CULPADO É WAGNER - Publicado em 17 de janeiro de 2020.
O pronunciamento do ex Secretário da Cultura aponta para os problemas centrais de estados totalitários.
O pior é a arrogância. A arrogância de achar que é o único que sabe o que é bom para o povo brasileiro. A arrogância de querer direcionar a arte, uma nau que não se submete a bússolas, quer indiquem o Norte, quer o Sul. A arrogância de subestimar a inteligência das pessoas, achando que ninguém perceberia claras alusões ao nacional-socialismo alemão. Finalmente, a arrogância em achar que estava seguro sob o manto bolsonarista e que não responderia por seus atos. Sim, Roberto Alvim é arrogante, um traço comum em quase todas as expressões máximas do governo Bolsonaro.
Neste triste episódio, muitos têm culpa, a começar pelo próprio defenestrado. A ideia de direcionar a arte aos valores nacionais e heroicos e à vontade da esmagadora maioria do povo brasileiro revela anseios recorrentes aos estados totalitários: impor apenas uma visão artística, aquela que respalde o pensamento dos ocupantes do poder e banir qualquer manifestação artística que confronte o pensamento oficial. Isto SEMPRE conduziu à censura, à perseguições e morte.
É culpado o Presidente Bolsonaro, porque todos seus pronunciamentos incentivam este tipo de atitude autoritária. A forma como trata a imprensa, suas pretensas piadas almejando as minorias, sua exaltação do que chama boa arte. Particularmente, tenho convicção de que Bolsonaro sofreu ao botar pra fora Roberto Alvim, até porque um dia antes havia rasgado elogios ao melhor Secretário em dez anos. Se não fosse a pressão da comunidade judaica, justamente ofendida, o Presidente trataria a questão como um episódio menor. Suas relações pessoais com a comunidade judaica e com o próprio Netanyahu falaram mais alto. Mas a alma autoritária do Presidente sofreu…
São culpados também todos que expressa ou veladamente apoiam o discurso autoritário deste governo. Estamos criando uma atmosfera de intolerância que está crescendo dia a dia, até transformar-se num provável monstro violento e devorador. As facções mais radicais deste governo estão rotineiramente testando as instituições, as autoridades, o povo enfim, lançando sementes para um estado autoritário, para uma ditadura do clã Bolsonaro. Triste distopia esta… terrível realidade se vier a se concretizar.
Erram os que dizem que Roberto Alvim citou Goebbels. Rigorosamente ele plagiou Goebbels, já que, em sua ingenuidade arrogante acreditou passar impune se não desse os créditos ao autor intelectual do seu discurso ultranacionalista. Apropriou-se do discurso de um gênio maligno da publicidade e da propaganda oficial, da mesma forma descarada que pretende apropriar-se dos destinos da arte nacional.
Ao fim de tudo, o menos culpado é Wagner, que certamente jamais imaginou que sua música serviria de trilha sonora ao nazismo. Sim, a obra de Wagner é repleta de elementos da cultura alemã e, neste sentido, é impregnada de nacionalismo, mas inegavelmente genial. E acredito que, se conhecesse a amplitude maligna da figura, sentiria vergonha e repulsa ao saber que Hitler era seu fã.
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