O que foi, realmente, o governo de Jair Bolsonaro?
Imagem de: www.slon.pics / Freepik
Dizem que o brasileiro tem memória curta. Agora, na perspectiva de uma eleição presidencial, a falta de memória é problema sério que traz graves consequências. Para refrescar lembranças do que foi a gestão de Jair Bolsonaro, passamos a republicar - todo domingo - comentários sobre este governo.
Assim, você poderá avaliar toda a trajetória deste governo ( ou desgoverno ). Quando outubro chegar, com os fatos recolocados, você pode formar seu julgamento. E se quiser reconduzir Jair Bolsonaro ao poder, é decisão e responsabilidade sua.
Hoje analisamos a aparente contradição nos pronunciamentos presidenciais e em seus próprios desmentidos. Analisamos também os primeiros sinais da aproximação de Bolsonaro ao centrão.
SINAIS TROCADOS? Texto originalmente publicado em 22.04.20
O comportamento do Presidente é contraditório ou faz parte de um projeto de poder?
Para muitos, Bolsonaro é, atualmente, a figura mais controversa do país. Bem, sabemos que ele é uma fonte inesgotável de sinais contrários. Seus desmentidos, seus não foi bem isso que eu disse, suas fugas às perguntas incômodas são marca registrada deste ( des )governo. O Presidente é o tipo de pessoa que vai numa manifestação pública pela intervenção militar e pelo retorno do AI-5 e depois, na maior cara-de-pau, diz para a imprensa que é pela democracia.
Na mesma manifestação, que pedia o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, ele nos brindou com frases como esta:
-- Estou aqui porque acredito em vocês!
-- Não vamos negociar nada!
Depois, diante da imprensa e depois das fortes reações ao discurso autoritário, censura um simpatizante que grita pelo fechamento do STF. “Nada disso, aqui é democracia”.
No meu entender não há nada de contraditório. Como sempre disse, Bolsonaro é o mais transparente dos políticos. Seu projeto autoritário está claro, está traçado. Faz parte do seu projeto testar a resistência das instituições e aferir o ânimo do povo diante de discursos sobre a ditadura. É bem verdade que este projeto exige uma boa quantidade de desfaçatez e óleo de peroba. Mas isso Bolsonaro tira de letra, pois não está nem aí com a indignação das pessoas de bem.
Talvez o maior exemplo desta desfaçatez esteja em duas frases que gritou aos manifestantes que clamavam pelo retorno da ditadura:
-- Chega de patifaria!
-- Chega da velha política!
Sério, Presidente, é muita cara-de-pau… acaso não é patifaria fazer de tudo para que não se investigue o caso Queiroz/Flávio Bolsonaro? Não é patifaria buscar frear a CPI das fake news, porque sabidamente seu filho Eduardo Bolsonaro ( aquele que acha que arranhar inglês e saber fritar um hambúrguer o credenciam à embaixada nos EUA ) é o rei das fake news? Acaso não é patifaria sumir com provas no caso Marielle? Provas que provavelmente incriminavam Vossa Excelência? Como o senhor chamaria todos estes comportamentos?
E velha política? Francamente… o senhor foi o deputado federal mais folgado da história do Congresso Nacional - dois projetos aprovados em 27 anos! No começo do governo Lula o senhor estava no centrão, ou não estava? O mesmo centrão que, às custas das propinas distribuídos pelo mensalão do José Dirceu, formava a tranquila/subornada base de apoio do PT no Congresso Nacional. Não houve qualquer denúncia de sua parte ou houve? Sabemos que o senhor não foi a julgamento naquele processo, porque o processo visou os líderes dos partidos. Mas seria interessante pesquisar seu comportamento parlamentar no período mensalão.
Agora, realmente acintoso é falar em velha política e buscar aproximação com Roberto Jefferson, o político mais visceralmente identificado com a velha política. Jefferson foi mensaleiro confesso, tanto que, como réu confesso, foi a base de denúncia da CPI do mensalão. Agora, percebendo que um Presidente não governa sem o Congresso Nacional de que vive zombando, Bolsonaro está se aproximando novamente do centrão, numa política velha do toma-lá-dá-cá. O FNDE ( Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação ) foi para o PP; a FUNASA ( Fundação Nacional da Saúde ) para o PSD; e, ao que parece, o Banco do Nordeste acaba de ir para o PL de Valdemar Costa Neto, outro político de “passado impoluto”. Distribuição de cargos à moda antiga.
Como disse: não há controvérsia alguma. O senhor é transparente, Presidente...
Comments