Quais são as mais recentes ameaças à liberdade de expressão no Brasil?
A coletiva queria ser festiva: o Santos Futebol Clube apresenta seu novo treinador, Jesualdo Ferreira, um português qual Jorge Jesus, o grande vencedor do ano passado. Jesualdo está feliz, orgulhoso por comandar um clube mítico como o Santos, clube que eternizou o maior futebolista de todos os tempos, nosso Pelé.
Tudo vai bem, até o Presidente do Santos - José Carlos Peres - tomar a palavra para desancar a imprensa. As críticas do Presidente, vejam vocês, diziam respeito ao conteúdo das matérias que, no entender do cartola, deveriam se limitar ao futebol, aos atletas, à tática, ao esporte estritamente considerado. O que Peres não aceita é uma imprensa analisando as finanças do clube, aquilo que não seria, ainda no entender do cartola, a seara da imprensa.
Resta claro que Peres não entende nada de jornalismo. A seara da imprensa é a notícia. E por notícia devemos entender tudo aquilo que possa ser do interesse do grande público, notadamente o público voltado ao assunto em questão, no caso, a grande torcida do Santos. Pergunta-se: será que o torcedor santista não tem interesse em conhecer a quantas anda a administração do seu clube? Será que o apaixonado pelo peixe não quer saber se os recursos do clube estão sendo bem aplicados? Se as dívidas são muito grandes? Se o futuro é tenebroso? Se o Santos pode ser um novo Cruzeiro? Claro que quer, senhor Presidente.
Sim, o torcedor prefere ouvir notícias relacionadas ao futebol em si. Mas, como não é bobo e ama seu clube, quer saber tudo o mais. Então, pare de tentar pautar a imprensa, senhor Presidente. Seja mais transparente e aceite placidamente o papel da imprensa.
O episódio futebolístico é só mais um exemplo dos ataques que a liberdade de expressão vem sofrendo no Brasil. A imprensa é o maior objeto da liberdade de expressão, embora não único, pois todos temos interesse na liberdade de expressão, que se dá de múltiplas formas, da palavra escrita à música, do discurso às artes plásticas, da roupa que uso a qualquer forma, enfim, de expressão do pensamento.
Outro Presidente, agora o da República, costuma desrespeitar a imprensa em todas coletivas: recusa-se a responder perguntas espinhosas, ainda que pertinentes; debocha de jornalistas, com insinuações grosseiras e inadequadas ao posto que ocupa ( teoricamente, um estadista ); faz ataques constantes aos órgãos de imprensa que entende não alinhados ao Planalto.
Ocorre que a imprensa não existe para estar alinhada. O jornalista há de ser sempre desalinhado, embora sempre verdadeiro, bem fundamentado em suas fontes. O comportamento do Presidente Bolsonaro incentiva os múltiplos trogloditas que circulam em nosso país, arvorando-se em paladinos dos bons costumes. Estes justiceiros - pessoas sem o menor discernimento e controle - como o empresário que atacou o Porta dos Fundos, atualmente foragido, crescem sempre quando se sentem reverberadores de grandes lideranças.
Bolsonaro, assim como Peres, pouco preocupado está com isso. Afinal a liberdade de expressão incomoda, sobretudo aqueles que têm muito a responder: Peres deve responder sobre as finanças da sua gestão; Bolsonaro deve responder sobre Mariele, Queiroz...
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