Os sites de apostas estão dando Trump. Kamala deve se preocupar?
Imagem de InfoMoney.
O New York Times publicou uma nova pesquisa, dando Kamala Harris vencendo na Pennsylvania por 4 pontos. Pennsylvania, com seus vinte votos eleitorais, é um dos Estados que detém a chave da vitória em 5 de novembro. Nate Silver, um dos mais respeitados analistas de pesquisas, considera que a vitória no Estado dá 87,7% de chances de vitória no Colégio Eleitoral para Kamala. Caso Trump ganhe, suas chances de vitória são de 92,6%. O caminho para a vitória passa pela Pennsylvania. Ou seja, ambos os candidatos estão despejando montanhas de dinheiro e esforços lá. Mas por mais prestigiosas que sejam as pesquisas do New York Times/Inquirer/Siena College, ela não é confirmada por outras, também respeitáveis, como a do Wall Street Journal – que dá Trump à frente por um ponto - e, principalmente, estão dentro da margem de erro.
A 21 dias do 5 de novembro, dia das eleições, Kamala Harris e Donald Trump estão rigorosamente empatados nas pesquisas eleitorais. No modelo de Nate Silver, que calcula as probabilidades de vitória com base nas pesquisas eleitorais e as pondera em um modelo matemático incompreensível para o comum dos mortais (eu, pelo menos), ele conclui que as probabilidades de vitória no Colégio Eleitoral estão em 52,2% a 47,6% a favor de Kamala. Esta diferença nada significa, pois na prática configura um empate. Como também nada significam as médias de pesquisas publicadas pelo New York Times, que dão Kamala vencendo Trump por 49 a 46, nacionalmente, e Kamala vencendo em 4 Swing States (Nevada, Michigan, Wisconsin, Pennsylvania), e Trump vencendo em outros três (North Carolina, Georgia, Arizona). Em todos a diferença é de apenas 1%, com exceção de Arizona, que é de 2%. Uma pequena diferença, dentro da margem de erro, pode levar a uma vitória de avalanche para qualquer um dos candidatos, o que faz com que analistas sérios como Nate Cohn, do New York Times (outro guru de pesquisas), se contorçam em malabarismos verbais para tentar explicar o inexplicável.
No outro front do xamanismo eleitoral, o das apostas, o panorama está mais definido. Após um breve período, após a Convenção Democrata e o debate eleitoral onde Harris esmagou Trump, e os apostadores, por uma pequena margem, estavam colocando seu dinheiro na vitória democrata, aos poucos as águas refluíram para Trump. Agora todos os sites de apostas o favorecem. Polymarket começou a onda, seguida pelos demais. Na média de Real Clear Politics, Trump está em 53,9 contra Harris 44,9. Todos os sites listados em RCP dão Trump vitorioso. PredictIt dá Trump 54 a 49, invertendo a posição da semana passada. Em Polymarket Trump abriu 10 pontos sobre Harris (55/45).
A pergunta que não quer calar: o que há por trás destes mercados? Silver fez esta pergunta em seu Bulletin. Para ele, não há nada ou quase nada. Apostadores, como viciados em geral, tem suas próprias reações em períodos de calmaria como a que estamos vivendo, períodos que ele compara aos doldrums. Os leitores de aventuras marítimas como as de Patrick O’Brien conhecem a expressão (a zona de calmaria no Equador). Marinheiros entediados nos doldrums, como apostadores na mesa de roleta, alguma coisa farão para quebrar o tédio da espera. Inclusive colocar mais dinheiro na mesa.
Há outra possibilidade, sempre à mão para os adeptos das teorias de conspiração. Haveria uma manipulação de mercados. Os plutocratas bilionários que apóiam Trump, como Elon Musk, estariam manipulando os mercados de apostas, visando criar uma onda psicológica a favor de seu candidato. Sim, é possível, e já aconteceu, lembra Silver. Mas ele observa que em certo tipo de grande evento (como Super Bowl), sempre há muito dinheiro recreativo circulando, o que torna difícil derrubar as apostas. E há também a legião de fãs que apóiam Trump. Em 2020 muitos ainda estavam apostando em Trump após ele ter perdido as eleições. Silver ganhou quase 50 mil dólares nestas apostas. Como dizia um sábio, nasce um otário a cada minuto (esta frase é atribuída a P.T. Barnum, o criador do moderno circo e, portanto, um dos pais deste espetáculo que estamos assistindo).
Nada, rigorosamente nada, está acontecendo. Só nos resta aguardar o dia 5 de novembro. Faltam 21 dias. Acompanhe aqui, no Dialeticos, toda terça-feira, nossos comentários. O circo vai pegar fogo.
Um dos grandes escritores ingleses, Patrick O’Brian, escreveu uma série de aventuras náuticas, tendo como heróis dois marinheiros ingleses. Um dos 21 livros, Ilha da Desolação (foi editada no Brasil), retrata o tédio e o desconsolo dos viajantes apanhados nos doldrums. Ler O’Brian é mais emocionante do que arriscar seu dinheiro na mesa de jogo.
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