Somos senhores do que calamos e escravos do que falamos.
Arthur Virmond de Lacerda Neto

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay
Conversa, palestra, colóquio, cavaco, prática são sinônimos; palestra é conversa e não é sinônimo de conferência: dizemos escorreitamente “conferência de fulano”, não: “palestra de fulano”.
“[...] bem escutar e bem responder é uma das mais grandes perfeições que se pode ter na conversação.” (Rochefoucauld. Dois moralistas. La Rochefoucauld e Vauvenargues. Paris, 1878, p. 46).
“O que faz que poucas pessoas sejam agradáveis na conversação, é que cada um pensa mais no que deseja dizer do que no que os outros dizem, e que quase somente se escuta quando bem se deseja falar.
Contudo, é necessário escutar os que falam. É mister de dar-lhes tempo de fazerem-se entender, e até suportar que digam coisas inúteis. Bem longe de contradizê-los e de interrompê-los, deve-se, ao contrário, entrar em seu espírito e em seu gosto, mostrar-lhes que os entendemos, louvar o que eles dizem à medida que merece ser louvado, e fazê-los ver que é mais por escolha que os louvamos do que por complacência.” (Rochefoucauld. Dois moralistas. La Rochefoucauld e Vauvenargues. Paris, 1878, p. 113-114).
“Observemos o lugar, a ocasião, o moral em que se encontram as pessoas que nos escutam : porque se há bastante arte em saber falar apropriadamente, não a há menos em saber calar-se. Há silêncio eloquente que serve para aprovar e para condenar; há silêncio de discrição e de respeito. Há, finalmente, tons, ares e maneiras que implicam tudo que há de agradável ou desagradável, de delicado ou de chocante na conversação.” (Rochefoucauld. Dois moralistas. La Rochefoucauld e Vauvenargues. Paris, 1878, p. 115).
Evitem-se perguntas abruptas, enunciadas fora do contexto da palestra ou subitamente, concernentes à intimidade do indagado ou a sua vida pessoal, a que o indagado responde (amiúde) defensivamente: “Por quê ?”, pista infalível de que ele percebeu-a como invasora ou inconveniente. É preferível aguardar o momento azado no curso do colóquio para satisfazermos nossa curiosidade ou conduzi-lo até próximo do ponto que nos interessa indagar, e então fazê-lo, se a interrogação não for inconveniente nem invasora. Podemos mitigar-lhe o aspecto invasor ou evitá-lo mediante fórmulas em que solicitamos anuência para indagarmos:
— Se não lhe for inconveniente a pergunta [...]
— Sem lhe querer invadir a intimidade [...]
— Se me permitir a indagação [...]
— Sem querer ser inconveniente [...]
— Se lhe puder indagar [...]
— Permita-me que lhe pergunte [...]
— Se não for abusivo de minha parte [...]
São censuráveis indagações de pura curiosidade invasora da intimidade ou da vida pessoal alheias, cujo teor ou cuja resposta em nada diga respeito a seu autor.
A interrogações, há respostas veritativas e sinceras; também as há de tergiversação, convencionais, superficiais e até falsas: defensivas, é legítimo valer-se delas quando o interrogador estiver mal-intencionado ou moverem-no segundas intenções.
Alguém não entende frase ou pergunta do interlocutor e reage:
1. Impolidamente com "Quê ?", "Hã ?", "Hein ?", “Oi ?”.
2. Polidamente com:
— Repita, por favor/por obséquio/por mercê/por graça/por fineza.
— Desculpe...
— Desculpe-me, não entendi.
— Desculpe, esta parte não percebi/entendi.
— Qual foi a pergunta ?
Com intervenção indireta :
— Como assim ?
— Diga. (É melhor do que as formas do ponto 1; sem ser impolida, é menos polida. É útil quando o interlocutor hesita entre dizer e não o fazer : serve como convite a que o faça; sua aplicação nesse caso exige perspicácia e prontidão de quem a enuncia).
É defeito grosseiro falar enquanto outrem no-lo faz : aguarda-se o fim do discurso alheio para então nos manifestarmos.
Quem cala, nem sempre consente: há silêncios anuentes e os há estratégicos, em que não convém expor a divergência (para premunirem-se conflitos desnecessários; para o silente não expor seus pensamentos, intenções, sentimentos; por outros motivos).
Somos senhores do que calamos e escravos do que falamos.
Em sua juventude, Oscar Wilde era conversador infindo e gracioso: passou-a a falar.
No Brasil, forma de findar conversa com o interlocutor ou monólogo do verborrágico é dizer-lhe: "Está bom, fulano".
É ou era preceito de boas maneiras o autor da chamada telefônica tomar a iniciativa de findá-la; no caso de interlocutores tagarelas, é atitude defensiva seu recipiendário fazê-lo.
Fórmula empregada por visita que se retira: “Vocês são gente boa, mas tenho de ir” ou “A conversa está boa, mas tenho de ir”.
Olhar o mostrador do relógio é sinal de que a visita ou o monólogo deve encerrar-se. Ou não ?
Que fazer com visita que se demora demais ? Marcelo Rebelo de Sousa disse a seus filhos menores, na presença da visita: "Meninos, agora vão se deitar porque o senhor quer ir-se embora". E se não houver filhos menores ?
No Brasil, atende-se ao telefone com: “Alô” (aparentemente do francês “allons”); em Portugal diz-se: “Estou”, “Estou sim”.
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