DELEGADO PLÍNIO CONTRA A OKW
- Hatsuo Fukuda

- 3 de jun.
- 4 min de leitura
Atualizado: 8 de jun.
Uma aventura do delegado Plínio.

Imagem de Gemini.IA
13. CANÇÃO DA FRONTEIRA
Since you went away the days grow long
And soon I’ll hear old winter’s song
Plínio foi chamado pela Coronel Maribete, da Patrulha da Fronteira. Uma grande picape, mais parecendo um caminhãozinho, levou-o até uma lanchonete à beira da estrada em direção à Maringá. E foi embora. Plínio tomou um café enquanto aguardava. E fumou um cigarro. Algum tempo depois, tomou outro café. E fumou mais um cigarro. Observou a chegada de um carro que foi até o borracheiro e viu o pneu ser retirado, consertado e a seguir trocado. O carro se foi, e Plínio permaneceu. O céu azul sem nuvens e sem vento. O silêncio era quebrado apenas pelo ruído de caminhões que passavam em velocidade e agitavam o ar. Plínio aguardava. Uma hora depois, um carro chegou e Plínio embarcou. O motorista nada disse, e Plínio nada perguntou. Já tinha se acostumado aos hábitos da Patrulha da Fronteira. A Coronel Maribete Oliveira não ganharia o concurso de Miss Simpatia de Platônia, e seus homens tinham sido educados por ela. Todos se comportavam como serial killers perseguidos pelo FBI. Qualquer palavra que dissessem seria usada contra eles. Portanto, permaneciam calados. Não era agradável, mas dava para se acostumar. Plínio tinha conhecido assassinos piores.
A Coronel Maribete, para variar, estava de bom humor. Seu sorriso quase se parecia com o sorriso de uma mulher. Ela era uma mulher, afinal, apesar de seu passado sombrio. Mas Plínio era um realista e um homem vivido. Sabia que não havia mulher que não tivesse segredos sombrios na vida. Muitos homens haviam passado pela vida daquela mulher. E morrido. A mulher que não tivesse deixado alguns cadáveres pela vida não existia, pensava ele filosoficamente. Seria ele o próximo?
Ela o levou a um aposento reservado. Uma mesa e duas cadeiras os aguardavam. Maribete e Plínio se sentaram um em frente do outro, separados pela pequena mesa. Ela o olhou firme nos olhos e perguntou se ele estava pronto para a batalha. Plínio concordou.
- Eu só vou para a luta com meus irmãos e companheiros de sangue. Se quiser vir conosco, você deve fazer o juramento.
Plínio sabia do que ela estava falando. No QG haviam dito que Maribete confiava somente em seus companheiros da Patrulha. Agora ela o estava convidando para ser seu irmão. Era uma honra, mas também uma responsabilidade. Plínio não gostava de confrarias, nem de clubes reservados. Ele sempre fora um lobo solitário. Mas sabia também que desde o início de sua colaboração, fora mantido afastado de inúmeras ações. Um silêncio inesperado se seguia a algumas perguntas que fazia. E a razão era simples: ele não fazia parte da Patrulha. Não era um deles. Agora estava diante de uma encruzilhada. Se quisesse continuar, deveria fazer o juramento de lealdade. A Patrulha acima de tudo. Ele permaneceu em silêncio, sentindo o peso da decisão. Mas não havia como negar. Maribete pessoalmente o convidara. Pela primeira vez na vida, Plínio seria membro de um clube. Um clube de assassinos leais.
A cerimônia aconteceu após o escurecer. Foi levado a uma floresta, e em uma clareira fora acesa uma grande fogueira. Um grupo pequeno, um pelotão da fronteira, o aguardava. Seriam seus companheiros de Patrulha. Plínio os reconheceu de outras ocasiões. Durante aqueles meses, sem saber, ele tinha sido testado pelos patrulheiros. Agora eles o recebiam formalmente.
O sangue foi trocado entre os novos irmãos. Maribete cortou a palma da mão e deixou seu sangue se misturar ao do novo companheiro. Plínio a viu sorrir calorosamente, e entendeu que só ali ela se sentia livre e amada. O mundo era duro e cruel, mas naquele círculo ela estava protegida. A luz da fogueira deixava ver o brilho de seus olhos. Eles tinham brilho, pensou Plínio. É uma mulher, afinal.
Um dos homens cantou solenemente o Hino da Fronteira. Plínio nunca o tinha ouvido, e se surpreendeu com o tom guerreiro e marcial. Não era uma canção de amor ou de amizade. Os homens a cantariam marchando para a morte. "Por que me surpreendo? Eles são soldados. Isso não é uma festa de quinze anos"
Taças cheias até a borda foram solenemente esvaziadas pelos patrulheiros, e a seguir esmagadas pelas botas. Aquele cristal seria usado apenas uma vez.
Ele era agora um patrulheiro da fronteira. Maribete, a matadora, agora era sua irmã e companheira. Pela primeira vez na vida, Plínio fora aceito como sócio de um clube. Ele se sentiu orgulhoso e confortado. No vazio imenso em que vivia, um sentimento cálido tomou forma. A amizade entre camaradas de armas talvez preenchesse o vazio. Mas nada substituiria o ódio que tomara conta de si, desde a morte de Ana Lúcia. Plínio queria vingança, e a Patrulha da Fronteira saciaria esta fome.
Maribete sorriu e disse:
-- Pronto para desafiar o mundo?
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