DELEGADO PLÍNIO CONTRA A OKW
- Hatsuo Fukuda
- 22 de abr.
- 3 min de leitura
Uma aventura do delegado Plínio.

Imagem de Freepik.
7. A BARISTA DA FRONTEIRA
Meu amor, por caridade
Não me deixe na saudade
Não me faça padecer
Ana Lúcia serviu capuccinos e chineques para as irmãs Meri e Mari e as observou em silêncio. Elas estavam sentadas no balcão, após o programa matinal Bom Dia Platônia, da Rádio Difusora Platonense. O programa começava às 6 horas da manhã e elas não tinham tomado café da manhã. Estavam famintas. Mari, a mais velha (tinha nascido dois minutos antes de Meri), e portanto mais ponderada, pensava que elas deveriam comer uma refeição mais proteica, mas Meri era adepta dos chineques a qualquer hora do dia. Pouco importava. Elas passariam o dia ensaiando uma nova coreografia, e as calorias em excesso seriam enxutas. Seria uma nova dança para um antigo sucesso, No calor dos teus braços, das Irmãs Galvão. Mari se perguntava até quando cantariam velhas canções. “Quando teremos um Nhô Pai, um Carlos Randall, um Mário Campanha para chamar de nosso?” Pensar no maestro Campanha a fez suspirar. “Que sorte teve a Mary Galvão. Ela teve amor e um maestro”, pensou. Mari era jovem e estava ansiosa. Queria alguém com quem partilhar as canções e a cama. Um beijinho doce.
Meri, concentrada no segundo chineque, lembrava do pequeno deslize na apresentação. Precisava se concentrar, mas o jovem apresentador a havia tirado do sério. Mari notara, mas sabia o que estava acontecendo, e via o passo em falso com olhos de irmã mais velha. Elas se entendiam.
Ana Lúcia invejava a vida das irmãs Meri e Mari. Sempre viajando, dançando, levando uma vida de artista. Ela gostaria de acompanhá-las. Sabia que era uma vida dura, e a excitação do palco era um pequeno momento precedido pela dura realidade dos ensaios e dos pequenos hotéis e maus restaurantes que elas eram obrigadas a frequentar. Mas quando as luzes do palco se acendiam, e a multidão gritava, dançava e cantava as canções... Aquela emoção justificava todo o sacrifício. Mas ela tinha escolhido ou o destino havia dado a ela um caminho, e sabia que não tinha o talento que as irmãs Meri e Mari possuíam. Ela seria uma barista, seria dona de seu café, faria seus chineques e sonhos e teria um homem para chamar de seu. Esta era a vida que ela queria para si. O glamour da vida de artista não era para ela.
Um homem para chamar de seu... Plínio quase não aparecia mais no café. Toda a cidade se perguntava por onde andaria o delegado. Edevaldo, o escrivão, estava dirigindo as atividades. Os policiais apareciam no café e Ana Lúcia ouvia os comentários. O delegado estava a serviço do DG e ninguém sabia o que estava fazendo. Mad Leo o acompanhava quase sempre, mas era um homem lacônico e dele não se ouvia nenhuma palavra. A investigadora Maíra aparecia às vezes, mas nunca com Mad Leo. Ela também andava silenciosa.
Quando Plínio aparecia, Ana Lúcia ficava radiante. Ela não conseguia conter o sorriso. Mas ela percebera a mudança no comportamento de Plínio. Seu semblante já não era mais jovial. Ela sabia que a diferença de idade entre eles era grande, e ele era um homem que carregava um grande peso nas costas, mas mesmo assim ela não o via como uma figura paternal. Tinha dezenove anos. “Sou uma mulher, ele é um homem. O homem para chamar de meu. Mas eu o quero inteiro, não em pedacinhos”.
Combinou ajudar nos ensaios da nova coreografia. Ela tinha umas ideias e saiu do balcão para mostrar às irmãs. A freguesia ficou observando sorridente enquanto as três jovens dançavam. Elas riam enquanto dançavam. Cantavam e sorriam.
Começava um novo dia em Platônia. Por onde andava o delegado Plínio?
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