Julgue por si mesmo…
Imagem de José Augusto Camargo por Pixabay
Exigências descabidas costumam revelar o caráter das pessoas. Ou a falta de caráter. É o caso daquele desembargador que tentou livrar-se de uma multa por caminhar na praia sem máscara usando o carteiraço: sabe com quem está falando? Também aqueles empresários que buscaram furar a fila da vacinação usando o poder do dinheiro e acabaram enganados pela enfermeira estelionatária. Conheci um ocupante de elevado cargo público que exigia sempre subir sozinho no elevador ( e isso não em tempos epidêmicos ) e dizia que a proibição de fumar em lugares fechados não se aplicava a ele. Se alguém faz uma exigência claramente descabida, revela seu caráter.
A falta de caráter de nosso Presidente da República já se revelou em diversas oportunidades. Está escancarada diante da nação. Nos últimos dias, contudo, duas exigências absurdas feitas por Bolsonaro revelam, ainda uma vez, sua falta absoluta de caráter. A primeira delas: Bolsonaro pediu ao Comandante do Exército que sua filha fosse admitida no colégio militar de Brasília sem submeter-se aos exames admissionais. O exército abriu apenas 15 vagas para o 6ª série e Bolsonaro exige que a filha Laura entre sem prestar os testes. Quer, em suma, que se abra uma exceção. Todos sabemos que as escolas militares são consideradas centros educacionais de qualidade acima da média. Por isso mesmo são muito procuradas e, em função desta procura, o acesso a uma escola militar é feita por uma seleção de merecimento, isto é, exames admissionais. Mas Bolsonaro, por ser Presidente, pensa que sua filha não precisa submeter-se às normas democráticas de acesso. Ele dá um carteiraço no Comandante do Exército.
Este comportamento revela o que sabemos de Bolsonaro. Alguém que governa por seus próprios interesses e dos interesses da família. A justiça, o vestibular, a fila, nada disso se aplica ao Presidente e a sua família. Estão, no seu entendimento, acima da lei e das normas gerais de convivência. Coisas como etiqueta, educação, organização social, são simplesmente desprezadas. É um pensamento de mafioso, de miliciano, de ditador, enfim.
Segunda exigência: Bolsonaro expressou publicamente a exigência de que André Mendonça - se conduzido efetivamente ao Supremo Tribunal Federal pelos senadores - deva almoçar com ele toda semana. Ele simplesmente exige que um Ministro do STF precisa encontrar-se com ele toda semana para que possa discutir seus próprios interesses. Isso vai contra normas elementares da magistratura, como neutralidade e distanciamento. Novamente, Bolsonaro entende que as regras não se aplicam a ele.
Bolsonaro parece estar fritando propositadamente André Mendonça. Alguns acham que ele quer apenas acenar aos evangélicos com André Mendonça, sabotá-lo e indicar seu real escolhido, o Ministro do STJ, Humberto Martins. Poderá, então dizer aos evangélicos e à primeira dama, eu tentei. Deixando esta possibilidade de lado, de qualquer forma, é mais uma exigência absurda que revela o caráter autoritário, de capo da máfia.
O que se espera das pessoas é que resistam às exigências absurdas com uma atitude firme e digna. Se André Mendonça não parece ter fibra para indignar-se com nada, o Comandante do Exército talvez tenha. As cerimônias do Dia do Soldado, em que o General Paulo Sérgio de Oliveira comportou-se com altivez em defesa da democracia e das regras do jogo - que se aplicam a todos indistintamente - parece indicar isso. Ainda há generais com dignidade para não se curvar a um capitão expulso do exército. O fato é que Bolsonaro não falou e ficou o tempo todo comportadamente usando máscara. Como todo mundo deve fazer, aliás.
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