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Foto do escritorTião Maniqueu

LIBERANDO AS FERAS


No passado, o fascismo alemão gerou o holocausto. O que pode gerar no futuro?

Imagem de Metrópoles.


Vinícius Jr. é bom de bola, é negro, é alegre, é debochado. Defende as cores do Real Madrid, um dos maiores clubes de futebol do mundo. Tem um estilo em que se inserem o drible e aquilo que no jargão brasileiro do futebol chamamos de malemolência. Quando faz um gol, Vini Jr. comemora fazendo uma dancinha, uns passozinhos de funk, lambada ou samba. De tudo o que foi dito, apenas um ponto é que atiça a fúria das torcidas adversárias: ele é negro.


Em várias cidades espanholas onde o Real Madrid se apresentou disputando La Liga - a primeira divisão do futebol espanhol - Vini Jr. foi ofendido com palavras e gestos de conteúdo racista. Entre outras cidades, isso aconteceu em Mallorca, Valladolid, Sevilha e recentemente em Valência. A torcida entoa cantos racistas, atira objetos e xinga o atleta de mono ( macaco, em espanhol ). A razão é uma só: ele é negro e se destaca.


O racismo é uma doença que sempre existiu, no Brasil e no mundo. É ingenuidade achar que não há racistas em nossa sociedade só porque estamos no Século XXI e, bem, o racismo é uma manifestação imensa de ignorância que nos remete séculos ao passado. O que realmente espanta é que as pessoas perderam a vergonha de ser racistas. Aquilo que antigamente era guardado em meio a muita bile e silêncio, aquilo que antes apenas se pressentia no rosto vermelho e nas feições reprovadoras, agora faz-se escancarado. Hoje presenciamos, entre espantados e enojados, uma mulher branca, de meia idade, com uma criança no colo, proferir insultos racistas contra uma mulher negra dentro do metrô. Surpreendemo-nos com pessoas portando-se como racistas raivosos para com pessoas negras que ingressam em seus estabelecimentos, ou contra entregadores de fast-food que estão fazendo seu serviço. E tudo diante das câmeras, sem pestanejar.

Tenho refletido sobre o porquê disso tudo; porque as pessoas estão perdendo a vergonha de ser racistas. A resposta que me ocorre é uma só: porque sentem-se acolhidas em sua postura racista!? Sim, as pessoas não se sentem mais solitárias em seu racismo, ao contrário. Elas sentem-se parte de um grupo maior, que as aplaude nas redes sociais, que prestigia suas atitudes e lhes confere coragem para novas manifestações racistas. Há um movimento surdo e perigosamente crescente de pessoas defendendo bandeiras racistas, misóginas, antissemitas e muito mais.


Não há como dissociar o crescimento destes movimentos intolerantes do crescimento atual da extrema direita. Afinal, o preconceito é uma característica conhecida da extrema direita. A extrema direita, da qual o fascismo é apenas uma vertente, tem na supremacia branca um valor, assim como no que distorcidamente entende por valores conservadores. E a partir da concepção de uma supremacia branca, a partir de uma deturpada visão dos ensinamentos religiosos, formula discursos de ódio ( como se ódio coubesse em qualquer religião... ) contra negros, judeus, gays e outras minorias.


Portanto, o racismo que Vini Jr. sofre, que os negros no mundo estão sofrendo, é resultado de algo ainda maior e pior. A extrema direita cresce em todos cantos do globo. Enquanto esta ideologia se fortalece, mulheres brancas com criança no colo proferirão ofensas a negros dentro dos coletivos, homens brancos agredirão homens negros sem qualquer motivo e seremos forçados a contemplar cenas lamentáveis como a agressão que Vinícius Jr. sofreu em Valência. No passado, o fascismo alemão gerou o holocausto. O que pode gerar no futuro?

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