Ao contrário, é cada vez mais Bolsonaro.
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José Mujica já foi um radical, nos tempos em que o Uruguai vivia uma ditadura militar ( oficialmente de 1973 a 1985 ) e até alguns anos antes, visto que participou como tupamaro do episódio conhecido como A Tomada de Pando. Neste episódio, os tupamaros tomaram a Delegacia de Polícia, o Corpo de Bombeiros, a Central Telefônica e os bancos da cidade de Pando, que fica apenas a 30 quilômetros de Montevidéu.
Passou 14 anos na prisão, somente libertado ao fim da ditadura. Foi Presidente do Uruguai de 2010 a 2015 e depois Senador de 2015 a 2018. Para Mujica a prisão, o exercício do poder e mesmo os anos trouxeram maturidade. Passou a ter posturas equilibradas, respeitando pensamentos diversos, mesmo os de direita. E por isso concluiu sua vida política cercado do respeito de seus compatriotas, mesmo os que eram de ideologia oposta.
Lula não é Mujica. Os anos não lhe trazem equilíbrio ou maturidade. Tampouco é como o vinho, que se torna melhor com o passar do tempo. Lula é Lula. Um homem atado a valores ultrapassados da extrema esquerda, um homem a quem o poder não trouxe uma postura de estadista e os anos na prisão apenas trouxeram amargura e revanchismo.
Chegou ao poder graças a uma frente ampla, com um discurso de união nacional, de superação de velhas divergências. Chegou ao poder, sobretudo, porque a outra opção era ainda pior. Mas, até agora, tem derrapado em declarações/decisões que o lançam para trás, no triste passado que prometeu superar. A mais recente declaração foi assustadora: buscando defender o governo de Nicolás Maduro - convenhamos, tarefa vergonhosa e de resto impossível - afirmou que a democracia é algo relativo e que na Venezuela ocorrem mais eleições que no Brasil.
Ora, Presidente... este discurso não engana ninguém. Primeiro: a realização de eleições regulares, por si só, não conferem atestado de democracia para governo algum. A questão é como se dão as eleições, se a Justiça Eleitoral é independente, se o sistema eleitoral é transparente, se a oposição é respeitada e joga em condições de igualdade. Eleições regulares os nazistas faziam. E ganhavam com índices superiores a 95%. Pelo raciocínio de Lula, Hitler era um democrata.
Segundo: a democracia é baseada em princípios absolutos e inflexíveis. Pluridade de partidos, independência dos poderes, eleições limpas e transparentes, liberdade de imprensa, alternância do poder... Relativa é a vovozinha, Presidente.
Infelizmente, cada vez mais identificamos em Lula pensamentos - pasmem - bolsonaristas. A política externa é semelhante a de Bolsonaro, que também defendia ditadores, só que os da direita. Embora não chegue à mesma postura criminosa contra o meio ambiente e os povos originários, Lula já está "relativizando" sua atuação nesta área. Lula indicou para o STF o seu advogado particular, algo que Bolsonaro faria sem ruborizar. Finalmente, Lula parece ter adorado a ideia de Bolsonaro de ter uma Procuradoria Geral da República ajoelhada, disposta a fechar os olhos para os deslizes do Presidente. Já afirmou claramente que não tem qualquer compromisso em respeitar a lista tríplice para a escolha do Procurador-Geral da República.
Por incrível que pareça, já há alguns asseclas petistas defendendo o nome mais estranho possível para ocupar este cargo. Ninguém mais, ninguém menos que Augusto Aras! Parece totalmente bizarro e absurdo, mas o fato é que Aras não se importaria em cumprir o papel de Procurador-Geral ovelha. Se ele manteve a PGR ajoelhada e omissa no governo Bolsonaro, faria o mesmo no governo Lula. Algo que faria Lula dormir melhor, já que tem pesadelos com a prisão da Polícia Federal de Curitiba.
Tudo isso é estarrecedor. Preocupa. Escandaliza. Lula não é vinho. Tampouco é Mujica. Mas poderia fazer uma viagem rápida ao Uruguai, visitar o antigo tupamaro e, entre uma cuia de mate e outra, talvez ganhar um pouquinho só de juízo e equilíbrio.
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