Quando vão abandonar o barco?
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Pense num navio pirata que já teve seus dias de glória. Navegou os Sete Mares, disparou muitos tiros de canhão, fez muitas abordagens com a tripulação atacando com lâminas nos dentes. Muita pilhagem, muito rum, muitas mulheres. O capitão era um homem bronco, violento e de coração duro. Fez muitos percorrerem a prancha, inclusive alguns amigos. Mas os tempos bons passaram junto com a impunidade, os crimes do passado dançam no tombadilho como esqueletos fantasmagóricos. O barco está com o casco carcomido pela craca marinha, as velas rotas e o porão fazendo água.
Os ratos do porão ameaçam abandonar o navio e com ele o capitão. Este velho capitão já não assusta tanto, já não grita arrogantemente com qualquer um, já não vocifera. Está acabrunhado, estranhamente comportado, como que visualizando a espada da justiça à espreita. Ainda agarra-se a tesouros escondidos, pois sempre acreditou em deuses dourados. Ainda acredita que a tripulação afundará com ele, se preciso. Ainda crê que os ratos não abandonarão o navio, mesmo com a linha dágua no porão subindo dia a dia.
A cada dia que passa, a corda em volta do pescoço de Bolsonaro se aperta. Mauro Cid, Silvinei Vasques, AndersonTorres, a tripulação está sendo conduzida, lenta e seguramente, ao cadafalso. Walter Delgati e milhares de ratos estão abandonando o porão soltando guinchos comprometedores. Até quando a fidelidade/temor da tripulação manterá as bocas fechadas?
Tomemos Mauro Cid como exemplo. Ao contrário do capitão, um militar de carreira extremamente sólida e promissora. Primeiro lugar nas Agulhas Negras, destinado aos mais altos voos sobre a caserna. Seria, certamente, um general de 5 estrelas. Sua fidelidade ( ou sabujice, como queiram ) ao capitão, está custando muito caro a ele e à sua família. O nome do pai está envolvido em escândalo. O nome da mulher citado como alguém que deseja preservar de tanta imundície. É o nome mais próximo a Bolsonaro, envolvido em todos deslizes do capitão, da vacina às joias da Arábia, passando pelo 8 de janeiro.
Você imagina o que passa pela cabeça do ex-ajudante de ordens. Terá valido a pena, dedicar-se a líder tão despojado de merecimento? A disciplina e hierarquia que um militar tanto preza, deve nortear Mauro Cid calado até o cadafalso? A ingratidão do capitão, que nada faz para salvá-lo, sequer os menores gestos, justificaria quebrar o silêncio, numa raivosa confissão de tantos pecados?
Difícil dizer. Os ratos abandonam o navio. A tripulação, mesmo abandonada, permanece em silêncio, fiel. O navio do capitão faz água, navega rangendo vergas com tempestades no horizonte. Do capitão, um Barba Negra de maus feitos e falta de caráter, não se espera a mínima dignidade. Da tripulação espera-se uma inspiração, ainda que no derradeiro momento, um grito que segure a alavanca que abrirá o cadafalso: Esperem! Tenho uma declaração a fazer!
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