Para mim a oração nada mais é que uma conversa eterna entre amigos...
Imagem de Daniel Reche por Pixabay
Por muito tempo, não entendia o poder da oração. Realmente não entendia. Talvez fosse, por conta disso, uma pessoa mais pobre. Mas houve, antes, um tempo em que rezava, não apenas em templos, mas na cama, antes de dormir. Pedia, então, pelos meus entes queridos, por inspiração, pela plena utilização de meus dons, coisas assim…
Acho que deixei de rezar quando o racionalismo tomou conta de mim. Percebi que maioria das orações são como produtos num mercado persa, onde elementos de barganha ficam ecoando no infinito. Prometo fazer isso, Deus, se você me der aquilo… Se receber esta graça, Deus, serei eternamente fiel…
Outras orações colocam Deus numa sinuca de bico. Aqui estão inseridas todas orações em que se pede uma vantagem, seja uma colocação, seja a aprovação em um concurso qualquer. Mesmo que não se peça movido por egoísmo, mas por amor a um ente querido, um filho, por exemplo. O dilema está em que, afinal, se seu pedido é concedido, alguém será prejudicado. Claro, é impossível colocar Deus numa sinuca de bico. Então, por mais fervor que você ponha nestas orações, elas são inúteis.
Há também o problema do livre arbítrio. A rigor, toda interferência divina fere nosso livre arbítrio. Pergunto: se Deus apareceu mesmo a Moisés na forma de uma tonitruante sarça ardente, que escolha o homem teve depois disso? E São Paulo? São Francisco? Maomé? Assim também, se podemos contar com a interferência divina em cada problema, nosso livre arbítrio é questionado, pois temos que arcar com as consequências de nossos atos, sejam quais forem. Aqui entram as orações que postulam uma cura, pois a doença é, frequentemente, a consequência breve ou tardia das nossas próprias escolhas. Realmente não penso que Deus interfira. Mas como muitos males são psicossomáticos e as pessoas realmente acreditam, por vezes a oração opera pequenos milagres...
Assim, parei de rezar. Tornei-me um ser mais árido. Quando alguém dizia: reze por mim! apenas dava um sorriso torto. Quando ouvia falar em correntes de oração, somente imaginava que grande perda de tempo era tudo isso. E por muitos anos segui assim. Não um ateu, pois a existência de Deus sempre foi para mim a consequência de um raciocínio lógico; mas um descrente do poder da oração.
Felizmente ou não, a gente muda. Hoje, penso diferente. A oração tem sim, poder. Não o poder que a maioria das pessoas lhe credita, mas o poder, singelo e maravilhoso, da metamorfose interior. Seja lá qual for o Deus em que você acredita, a oração tem o poder de mudar você para melhor, não por barganhas ou promessas, mas simplesmente por conversar com Ele… e refletir.
Hoje rezo o tempo todo e a presença divina confunde-se com minha consciência. Então a conversa não se dá entre o todo-poderoso e um grão de poeira, mas entre ( suprema presunção ) dois amigos. E me descubro rezando enquanto canto, enquanto trabalho, enquanto caminho, em qualquer lugar/momento que possibilite certa introspecção. E nestes momentos, percebo a doce presença Dele, sinto-me melhor e tranquilamente feliz.
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