A segunda pessoa do plural, usada corretamente, é bonita, bem sonante e econômica.
Arthur Virmond de Lacerda Neto
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As pessoas do discurso são eu, tu, ele, nós, vós, eles.
Existe a segunda pessoa do plural, a saber, vós, aplicável quando o sujeito da frase se dirige a mais de uma pessoa: digo-vos, expliquei-vos.
O pronome possessivo correspondente é vosso: isto é vosso (se empregar o pronome oblíquo: isto vos pertence).
Há as conjugações respectivas: sabíeis vós ? Direis vós ? Se entenderdes, melhorareis culturalmente.
Décadas atrás, no Brasil, era usual a segunda pessoa do plural; hoje, não mais, o que não significa que ela haja sido revogada. Ela existe; não é usada, porém pode sê-lo, como recurso disponível para todos quantos queiram usá-la.
No país (Brasil) em que, por décadas a fio, descurou-se do ensino do idioma, em que integrava o etos do homem comum a sentença (típica de desleixo e da mediocridade) “deve-se saber escrever corretamente, mas falar, pode falar de qualquer jeito”; em que o comum do povo desdenhava do idioma (e ainda desdenha); em que há animadversão acadêmica pela gramática normativa (vide lingüistas sequazes das doutrinas de Marcos Bagno), o resultado foi o que só poderia ser : o de que, nas últimas décadas, os brasileiros (sobretudo as gerações moças) aprenderam mal o idioma e desusam muito do quanto aprenderam; ele tornou-se desvalor, ao invés de ser tido e tratado como elemento de identidade cultural e componente da civilização.
Nos últimos cerca de 40 anos, acentuação, pontuação, conjugação, concordâncias, riqueza léxica, mesóclise, preposições, já mal sabidas pelas classes desinstruídas, porém ainda sabidas pelas estudadas, tornaram-se também ausentes destas, em proporção perceptível: ao invés de se manter conhecimento em uns e introduzi-lo em outros, deu-se o oposto, por culpa do sistema público de ensino lamentável e da mentalidade condescendente com o descaso e com o desleixo como práticas lingüísticas. O brasileiro médio deixou de adquirir recursos e de usá-los, a exemplo da mesóclise, das preposições, dos pronomes contraídos, do pronome reflexivo “se” e da segunda pessoa do plural.
A segunda pessoa do plural, usada corretamente, é bonita, bem sonante e econômica: em lugar de dizer-se, por exemplo, “explico para vocês” (3 palavras) ela permite-nos dizermos “explico-vos” (uma palavra); em vez de dizer-se “é de vocês”, ela permite-nos dizermos “é vosso”. Ao invés de enunciar-se “vou dizer isto para vocês”, pode-se dizer “dir-vo-lo-ei”: em lugar de cinco palavras, emprega-se uma, que contém todos os elementos delas. É fácil para quem o aprendeu (aprendi com onze anos de idade.).
Você, que aprendeu, use o que aprendeu. Aproveite o seu conhecimento; não se prive dele. Propicie o bom exemplo.
Os pronomes, os pronomes contraídos, as pessoas do discurso, a mesóclise, propiciam economia na comunicação e poupam o emissor dos circunlóquios prolixos a que o emissor se sujeita, se prescindir deles.
Saber bem o português e usá-lo corretamente é vantajoso e inteligente. Aliás, os pronomes, os pronomes possessivos, os pronomes contraídos, a mesóclise, os tempos verbais, os advérbios de modo, as pessoas do discurso e outros elementos do idioma, são recursos inteligentes, cujo emprego correto e corriqueiro denota que o seu usuário elevou-se à riqueza do idioma e capacitou-se para exprimir-se com precisão e clareza.
A segunda pessoa constitui riqueza e beleza do português, usável em qualquer situação, formal ou informal, oralmente ou por escrito, em textos formais ou informais, em situações profissionais, familiares, lúdicas; entre amigos, familiares, colegas, estranhos – em suma, em qualquer situação, entre todas as pessoas. Para usá-la, basta saber-se e querer-se usá-la.
Ela não contém formalidade nem pedantismo; empregá-la revela a capacidade de o indivíduo servir-se deste recurso do idioma, como meio de comunicação ao seu dispor.
Estranhar-lhe-ão o uso ? Sim, de começo, porém o ser humano a tudo se adapta, por efeito da habituação: habituemo-nos e habituemo-los (os outros) ao uso correto de todos os recursos do idioma. Demais, ninguém se deve inibir de empregar componente do idioma que se destina precisamente a ser usado.
Usemos vós, vosso, digo-vos, dar-vo-lo-ei ! É requintado, elegante, eufônico, bonito e correto.
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