Aproxima-se a estação seca na Amazônia e com ela o perigo das queimadas. Estamos preparados?
Imagem deRia SopalaporPixabay
Em breve começa o período seco na Amazônia e com ele o perigo das queimadas. O ano passado foi terrível, não só no Brasil. A Austrália queimou, a Amazônio queimou. Já estamos preparados para o negacionismo do governo, apontando para a normalidade das queimadas - é tudo normal… acontece todo ano... Isto certamente se repetirá… Mas a pergunta que importa é: estamos preparados para enfrentar queimadas em larga escala?
Deixo bem claro, não entendo nada do assunto. Mas penso que não é preciso entender muito para perceber como são patéticos os esforços para o combate aos incêndios florestais no Brasil. A visão de brigadistas exaurindo suas energias, inalando fumaça e comprometendo sua saúde, usando abafadores e lançadores manuais de água seria ridícula, não fosse triste. É um gigantesco desperdício de dinheiro e energia.
O leitor, por acaso, lembra de Evo Morales, ano passado, dando uma de voluntário no combate aos incêndios da Amazônia na Bolívia ? Descontando a fatura política - que se presume presente e que de nada lhe valeram - seus esforços eram absurdos. Se ele enfrentasse as chamas com cusparadas teria o mesmo resultado que seu aspersor manual de água. Os abafadores, ainda que tenhamos duzentos brigadistas, não terão melhor resultado. Isto porque as ferramentas são inadequadas ao tamanho do problema.
Salvo os incêndios em campinhos urbanos, fogo em grandes extensões não podem ser combatido assim. Mesmo aviões e helicópteros, que lançam milhares de litros das alturas, são ineficientes. O problema é que o único combate eficiente exige muitos recursos, treinamento e tecnologia. E a manutenção de centros regionais permanentes e profissionais.
Imaginem o caso. Grande incêndio na Chapada dos Veadeiros ou em qualquer outra unidade de preservação permanente. Dado o alarme, uma equipe de especialistas levanta voo em helicóptero para analisar o incêndio e promover sua localização exata com GPS. Identificados local e extensão do fogo, os experts analisam o regime de ventos e os mapas da região. A análise cartográfica foca em relevo, hidrologia e rede viária. Estabelecem a média de progressão do incêndio. Isso tudo para decidir o local exato em que o fogo poderá ser combatido.
Neste ponto é preciso fazer uma escolha de Sofia. Para combatê-lo será necessário fazer concessões ao fogo - entregar à sua voracidade quilômetros de mata e campo. Os especialistas determinam o melhor local de combate, presumivelmente às margens de um rio. Deslocam máquinas de grande porte para o local - tratores de esteira, guinchos madeireiros, caminhões. São auxiliados por homens com motosserras. Esta formidável equipe inicia a fazer um aceiro - uma faixa de terra nua, desbastada - cuja largura será definida em função da intensidade do incêndio, mas no mínimo vinte metros. As concessões ao fogo são necessárias para que esta equipe tenha tempo de trabalhar.
Com o aceiro pronto, então sim, os brigadistas têm seu papel de destaque. Porque estão postados atrás da linha do aceiro, aguardando a chegada do incêndio, prontos para impedir que o fogo pule o obstáculo. Qualquer fagulha levada pelo vento será imediatamente combatida e eliminada, pois para estas fagulhas os brigadistas têm equipamento adequado e suficiente. O incêndio se consome, desaparece por falta de alimento. Os brigadistas permanecem no local pelo tempo suficiente ao rescaldo natural.
Aos céticos lembro que incêndios florestais duram dias, às vezes mais de dez dias. Há tempo, portanto, para este combate em larga escala. Mas como disse: é necessário equipes regionais profissionalizadas e muito bem equipadas com máquinas e tecnologia. Recursos, portanto, vontade política. E vontade política no momento não há...
Ideia maluca? Inexequível? Visão de leigo? Talvez… o que sei é que da forma que está apenas comprometemos a saúde de nossos valorosos brigadistas. É melhor sentar e rezar para os deuses da floresta enviarem uma chuva tropical redentora… ou rezar por um novo governo.
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