RECOMENDAÇÕES DE LEITURA
Apenas um rapaz latino-americano?
Quem presenciasse - em 1970 - aquele rapaz, cujo rosto parecia esculpido em granito, cantando com sua voz anasalada, jamais julgaria que ele se tornaria, poucos anos depois, um dos mais populares compositores da música popular brasileira. Como isso aconteceu?
Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano é a biografia deste ídolo brasileiro, proposta pelo jornalista Jotabê Medeiros. Toda biografia será tão interessante quanto tenha sido a vida do biografado, é claro. Mas uma redação pobre ou pouco criativa pode causar sérios danos no prazer com que se acompanha o desenrolar dos atos da grande peça em que o biografado é o ator principal. Este não é o caso de Jotabê. Ao contrário, o texto é agradável, inteligente e flui com naturalidade.
Percebe-se que o autor devotou-se a uma profunda pesquisa antes de lançar-se à redação propriamente dita. Referências literárias, reportagens em jornais, entrevistas com familiares, companheiros de juventude e de trabalho e, naturalmente, a visita prazerosa à sua discografia completa, ofereceram ao autor o material necessário para entender Belchior profundamente. Mais que isso, situar adequadamente cada uma de suas personas, do monge ao ídolo pop, do pai amoroso ao fugitivo que abandona a família. Tudo isso Jotabê teceu com indiscutível bom gosto.
Ao longo das 237 páginas compreendemos melhor a trajetória de Belchior. Veremos o menino em Sobral, o monge capuchinho, o universitário no grupo do Ceará, o poeta profundamente envolvido com o destino/sofrimento de sua gente. Ao mesmo tempo, nestes bailes malucos da existência humana, encontraremos um homem disposto a uma luta de canivetes enfrentando Fagner - este amigo/inimigo visceral - o nordestino deslumbrado com o sucesso e o assédio das fãs e, finalmente, um paranoico fugindo de tudo e de todos, refém (?! ) de sua terceira parceira, a que muitos chamam Yoko brasileira.
Se você é fã de Belchior - como eu - não preciso recomendar a leitura deste livro. Você o lerá, se é que já não o fez. Belchior era um poeta despretensioso, atento ao que está ocorrendo. É também um compositor despretensioso que, antes de tudo, quer contar uma história. Daí sua poesia direta/mínima e suas melodias peculiares. Se você não é fã de Belchior, recomendo a leitura. Porque se você ler o livro e se permitir a ouvir seus principais discos - despido de preconceitos - talvez se torne um de seus milhares de fãs. E esta idolatria só lhe fará bem.
Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano
Jotabê Medeiros, Editora Todavia, 2017, 237 páginas.
Além de tudo que já dissemos, traz uma galeria de fotos ao final, bem como o rol de toda sua discografia.
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