NUDISMO NAS ASSOCIAÇÕES CRISTÃS DE MOÇOS
- Arthur Virmond de Lacerda Neto
- há 5 horas
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Desde inícios do século XVIII e até meados dos anos 1980, nos E. U. A. era consuetudinário os homens nadarem nus em rios, lagos e piscinas: a nudez era-lhes natural e inocente. Pelo menos naquela tipo de circunstância não eram gimnofóbicos, mas indiferentes à nudez e até gimnofílicos (amistosos para com a nudez natural).
Há fotografias de magotes de meninos e de rapazes nus, no lago do Parque Vitória, em 1900, bem assim no tanque de água da Praça Trafalgar, em 1919, ambos em Londres; em Dancing Ledge (Dorset, Inglaterra) em princípios do século XX; no Parque Bronx, em Nova Iorque, em 1922.
A abertura do filme Pollyanna, de Walt Disney, de 1960, mostra meninos que nadam despidos em rio.
Em todas essas imagens, os infantes acham-se à vontade em presença uns dos outros; elas registram o que se conhece perfeitamente nas fontes de história: o costume de natação nudista entre ingleses e estadunidenses, em que os moços nadavam e recreavam-se, em pelo, em águas fluviais, lacustres, marítimas e piscinais, em presença de terceiros, com naturalidade e liberdade sem malícia.
Tal costume persistiu por aproximadamente trezentos e oitenta anos: tradição inveterada que passou pela prova do tempo e educou positivamente gerações, na ausência de pudor (como vergonha do corpo) e como naturalidade da nudez, dissociada de sexualidade e de juízos pejorativos, pelo menos nas circunstâncias em que ocorria.
Não era o nudismo tal como se formou de 1895 por diante, na Alemanha e na França (e propagou-se pela restante Europa e pelos próprios EE UU AA): nudez social mista (de varões e varoas), de adultos e de infantes, em praias, campos, no lar, em família.
Durante a Depressão nos EE UU AA (anos 1930), eram os fatos de banho artigos de luxo que as famílias economicamente deprimidas adquiriam para as raparigas, porém não para os rapazes, que nadavam nus desde antes.
Em inícios de 1942, por efeito da declaração de guerra daquele país, tornou-se nele obrigatório despender-se o mínimo possível de tecido na feitura de indumentos, o que reiterou o desuso de vestes de banho masculinas (que encobriam do pescoço até quase os joelhos).
Durante a segunda guerra, a natação nudista nos acampamentos estadunidenses foi quase universal e perdurou até os anos 1960.
Nos anos 1880, as Associações Cristãs de Moços (Young Men's Christian Association - YMCA) introduziram piscinas, com a já então tradicional nudez masculina. Em 1910 instalou-se-lhes a primeira bomba de circulação de água com sistemas de filtração, que se obstruíam por efeito do desprendimento de fibras de algodão e lã com que se faziam os fatos de banho (muito maiores do que os atuais calções e do que as diminutas tangas) motivo porque em 1926 a Associação Estadunidense de Saúde Pública publicou instruções que recomendavam nudez masculina (porém fatos de banho para as varoas), nas piscinas das escolas públicas, dos municípios e de associações juvenis. Ademais, as vestes eram vetores de contaminações que se propagavam na água, o que igualmente induzia à nudez.
Em 1939 repontou cloração da água, que evitava tais contaminações; em inícios dos anos 1960 a maioria dos fatos de banho fabricava-se com tecidos sintéticos, que não desprendiam fibras. O motivo sanitário da nudez piscinal findara em 1939; o motivo utilitário findou na década de 1960, pelo que a Associação de Saúde Pública revogou, em 1962, a obrigação de nudez nas piscinas que, no entanto, persistiu.

Naquele ano, 20 dos 31 distritos escolares dos EE UU AA mantinham o nudismo, a que aderiam administradores e treinadores, já por carrancismo (representava tradição antiga, a que todos estavam afeitos), já porque a introdução de vestes importaria em despesas de seu fornecimento e lavagem, da parte das escolas que mantivessem piscinas.
Note-se que tal nudismo existia já em populações cristãs antes de se instalarem piscinas e trinta anos antes de, nelas, porem-se filtros de água que as fibras dos fatos de banho obstruíam e de se descobrir o papel do vestuário na difusão de gérmens patogênicos na água.
Ao longo de gerações, adultos, crianças, pais e filhos, varões e varoas aceitavam de boa mente a nudez varonil nas piscinas, nos rios, nos lagos. Às raparigas obrigava-se a vestirem fato de banho; elas usavam as piscinas em horários distintos dos em que o faziam os varões e sem mistura com eles, diferentemente do nudismo de matriz europeia, que abarcava assim homens como mulheres, de todas as idades e em convívio mútuo.
Nos anos 1970 as escolas públicas e as Associações Cristãs de Moços ainda obrigavam à nudez, que findou de todo nos anos 1980 (Leia aqui o artigo do New York Times sobre o assunto. NR). De então a esta parte transcorrem cerca de quarenta anos, em que sucessivas gerações habituaram-se ao pudor e à gimnofobia; quando menos, desaprenderam a inocência da nudez.
A imposição do tapa-sexo decorreu de motivo bíblico: obedecer-se aos ditames de Jeová, registrados nos lugares do Velho Testamento censuradores da nudez; ela foi obtida pelos setores rigorosos das seitas evangélicas: avolumara-se o cristianismo fundamentalista, que enfatiza o pudor e tratava a nudez como pecado.
Em boa verdade, nas religiões fundadas em textos, as mentalidades e os costumes sujeitam-se a câmbios por efeito da variação de ênfase neste ou naquele lugar deles: selecionam-se dadas passagens, que se invocam em jeito de nortes éticos e dos mores. A contrapelo, é de notar a existência de adamismo (corrente nudista do cristianismo), a aceitação da nudez entre cristãos primevos e que o Paraíso era campo nudista instituído pela mesma deidade cristã.

Sem a invocação de dados passos do Velho Testamento não haveria gimnofobia (tal como não a havia entre gregos e romanos, cujos atletas aliás, disputavam as olimpíadas em pelo, e cujos deuses e imperadores eram representados nus).
Já o nudismo e a gimnofilia provêm da convicção da inocência da nudez e pertencem ao espírito laico, livre de sobrenatural.
Expressão do nudismo estadunidense é o sem-número de fotografias de pintores, desportistas, atores cinematográficos, escritores, que se deixaram fotografar em pelo por Jorge Platt Lynes. Era normal assim para os próprios como para o público: viam inocência e beleza no que é inocente e belo. Estavam certos.
Toda praia há de ser de nudismo facultativo.
Arthur Virmond de Lacerda Neto

Arthur Virmond de Lacerda Neto defende suas idéias sempre com galhardia e conhecimento de causa.









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