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Foto do escritorSorin Markov

ARMAS E SOCIEDADE

Combinação claramente equivocada


Imagem por Pixabay



Em debates sobre armar a população civil, frequentemente argumentam que só gente preparada vai comprar armas, pois existem testes, psicotécnico, etc. Confesso que minha reação a esse argumento varia de acordo com o grau de ignorância, inocência e alienação da pessoa. O nível de avaliação e treinamento para alguém se tornar policial é muito maior do que para um cidadão comum adquirir uma arma de fogo. E já é péssimo! O despreparo da PM é diariamente flagrante. A triagem para um PF ou PRF é muito maior, e vejam o nível de preparo dos policiais rodoviários. Uma abordagem por falta de capacete termina em assassinato por asfixia, similar às câmaras de gás utilizadas pelos nazistas. Se houve dolo, foi crueldade e burrice. Se não houve, crueldade, burrice e um imenso e absurdo despreparo. Recentemente, um policial federal, que fora expulso de uma loja de conveniências de um posto de combustíveis, retornou ao local armado e começou a executar as pessoas a sangue frio, exatamente como fazem os cidadãos comuns em várias ocasiões já registradas. Imagine o “Seu João” armado por aí. O tiozinho do churrasco. E por aí vai. Não é difícil de enxergar que boa coisa não vai dar.


Outro argumento equino é o de que pessoas matam com facas, carros, etc. Primeiramente, a faca é um utensílio de cozinha cujo intuito é cortar alimentos. O carro foi criado para transportar pessoas com rapidez e conforto. Armas de fogo foram inventadas para matar! Matar com facilidade. Matar à distância. Matar com rapidez, evitando o revide. Enfim, matar! Em segundo lugar, a maioria das pessoas não possuem a consciência e a grandeza espiritual necessárias para abortar um ímpeto violento em um momento de fúria. Ao “perder a cabeça”, o tempo para ir buscar uma faca é crucial para fazer muita gente pensar melhor e desistir da ideia. Agora, se essa mesma pessoa tem uma arma na cintura, o assassinato é realizado de imediato. E mesmo que essa pessoa passe o resto da vida lamentando, arrependida e presa, o estrago já está feito. Uma vida foi tirada, e uma família destruída. Ninguém saiu ganhando.


A segurança pública brasileira já é ruim, e estão querendo piorar. Você, caro leitor, concorda que o país que tiver a polícia que mais mata no mundo tem algo de errado? E o país que tiver a polícia que mais morre? Pois o Brasil é o país que tem a polícia que mais mata E a que mais morre. Temos que concluir que nossa política de segurança é horrível e nosso efetivo é muito mal treinado e amparado. E ainda há quem ache que a solução é armar a população. Uma solução tão eficaz quanto tentar apagar um incêndio com gasolina.


Estudos e estatísticas comprovam que:


- Quanto mais armas nas mãos de civis, mais armas são desviadas para as mãos de criminosos.

- Ter uma arma em casa dá mais chances de um dos moradores morrer baleado do que um bandido.

- Ao ser assaltado, as chances de você ser morto aumentam se você estiver armado.


Quanto mais gente armada, mais violência e menos segurança pública. Se você está em um supermercado com 150 pessoas e 37 delas estão armadas, você se sente mais ou menos seguro?


Se na saída do colégio, com aquele corriqueiro trânsito engarrafado e caótico, 40% dos pais estiverem armados, você acha que seu filho está mais ou menos seguro?


Sua filha está numa balada, e metade dos “boyzinhos” mimados e bêbados estão com uma arma no porta-luvas, você acha que ela está mais ou menos segura?


Enfim, poderia dar mil exemplos. Segurança pública é dever do Estado, não é cada um por si. Tudo isso é tão evidente (além de estatisticamente comprovado), que há duas explicações para quem ainda defende a liberação de armas para a população civil: os que simplesmente não enxergam ou não compreendem dados e fatos, sendo aí um problema cognitivo, e os que estão devidamente informados e elucidados, mas não se importam com o bem-estar social desde que tenham eles próprios a sensação de segurança. Resumindo, o burro e o egoísta canalha. Não por acaso, são dois perfis de eleitores do Bolsonaro, que quer “escancarar a questão do armamento”, como já citou diversas vezes.


Há que se olhar, também, a questão social. Como adquirir uma arma é caro, este “direito” seria dado, na prática, a apenas uma parcela da população. Execuções sumárias seriam extremamente frequentes, com os assassinos alegando legítima defesa para evitar um roubo, por exemplo. É uma política de extermínio da população mais vulnerável. A Constituição e o Código Penal foram redigidos para serem cumpridos. A polícia deve ser acionada para atuar em flagrante ou em investigação a posteriori, com o intuito de levar o criminoso à Justiça. Essa, não pode ser feita com as próprias mãos, pois estaríamos regredindo séculos enquanto sociedade. Lembrando que o lema da bandeira nacional é ordem e progresso. E para atingir tal objetivo, é necessária uma revolução qualitativa em todas as peças que compõe a segurança pública, e não lançar ao povo o famoso: “te vira!”

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