Pesquisas recentes mostram que o Presidente recuperou em parte sua popularidade.
Imagem de Gerd Altmann por Pixabay
Primeiro foi o espanto. O Datafolha anuncia que o índice de rejeição do Presidente Bolsonaro caiu de 44% para 34%. E seu índice de aprovação subiu de 32% para 37%. São os melhores índices desde o início do governo. Como? COMO? Temos mais de 100 mil mortos pela pandemia ( e um governo que colabora com o COVID-19 ), a pior crise econômica da República ( e um governo paralisado ), Queiroz está preso e prestes, quiçá, a comprovar a lama em que chafurda o clã Bolsonaro… E a aprovação aumenta?
Depois, o estarrecimento. Sinceramente busquei identificar algumas virtudes no atual líder da nação que justificassem alguma empatia, alguma esperança popular na sua condução de governo. Não encontrei uma virtude sequer. Não estou sendo honesto, pensei, não é possível que o homem não tenha alguma qualidade. Procurei novamente, nada… A única qualidade que tinha - autenticidade - perdeu-se na nova postura supostamente controlada, certamente imposta por seus assessores mais próximos. Gente! O sujeito é - disparado - o pior Presidente da República que este país já teve ( Presidente eleito, por ora não estou contando os ditadores… ). Representa-nos extremamente mal. Como gestor compôs um ministério que é de arrancar os cabelos. Como orador, é pífio: não coordena as ideias direito, gagueja com sua língua presa e tem péssima postura; como estadista sequer compreende a dimensão do papel que desempenha; como articulador é um tanque manobrando num pátio de escola em meio ao recreio da criançada; como exemplo, bem…
Então veio a decepção. R$ 600,00 reais. É isso… este povo se vende por R$ 600,00. Certamente não é a mudança de postura, o fim das caneladas, pois isto é mais voltado aos apoios políticos e a sossegar o STF. A nova postura nada tem a ver com marketing eleitoral, ao menos ainda. Restam então os R$ 600,00, que a rigor o governo queria que fossem 200,00. Este país está perdido, pensei, se o velho truque de distribuir dinheiro público realmente resolve.
Finalmente, chegou a compaixão. R$ 600,00! Para a milhões de brasileiros é a diferença entre comer ou passar fome. Para inúmeras pessoas é a possibilidade de pagar as contas indispensáveis, o gás, por exemplo. R$ 600,00… para uma infinidade de compatriotas é a maior quantia que já receberam num mês… E quem sou eu para julgar esta gente? Eu com meu emprego estável, minha cama quente e três refeições por dia… A verdade é esta: nossa miséria é de tal dimensão que as pessoas ficam gratas por receber um auxílio que, em última análise, não é mais que obrigação do governo federal face à pandemia. E o Presidente, o homem a quem agradecer, é o cidadão que não usa máscara e não tem qualidades.
A democracia é um sistema complexo. Um organismo vivo que, para funcionar bem, necessita de todas células saudáveis. Enquanto não trabalharmos para resgatar as pessoas do mais profundo desconsolo em que estão lançadas, enquanto não lhes entregarmos dignidade para caminhar com os próprios pés, nada mudará. O sistema será vítima de populistas e sua caridade. Somente mediante um programa sério de distribuição de renda - que poderia começar com a reforma tributária - e um gigantesco projeto de educação - que poderia finalmente começar neste país - escaparemos da meia democracia em que vivemos. Sim, é uma meio democracia, já que o principal elemento, o voto, está desvirtuado.
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