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BOM SENSO


Trump chega atropelando.

Imagem de BBC.

O mais notável nas palavras de Donald Trump em seu discurso de posse foi a afirmação de que todas as medidas que tomaria em seu governo seriam a mera expressão do bom senso ( common sense - senso comum, na expressão usada em inglês ). Fato é que, em suas primeiras medidas, há de tudo, menos bom senso.


O quadragésimo sétimo Presidente norte-americano chegou atropelando as relações internacionais. A União Europeia, até então o principal aliado dos Estados Unidos, teme pelo futuro da OTAN, pois Trump cobra dos países europeus maiores investimentos na área militar e ameaça retirar-se, ao passo em que aponta para uma guerra tarifária nas relações econômicas. Para os ucranianos Trump é um desastre, forçando o país a aceitar um tratado de paz inaceitável ( aqui é interessante notar as palavras de Putin, denotando que Trump é mais que um aliado, mas alguém que traz no bolso ). Para o povo palestino, Trump é um pesadelo, sugerindo que a Faixa de Gaza seja evacuada - naquilo que chamou de "limpeza". Ele pressiona Egito e Jordânia para receberem milhares de palestinos.


Na economia o homem é inconsequente. Ao defender o seu bordão America first parece não perceber que a economia americana depende do mundo tanto quanto há dependência na via contrária. Forçar taxas para os produtos estrangeiros implicará em retaliação na mesma medida, e os empresários americanos verão seus produtos perdendo espaço para ávidos concorrentes, possivelmente a China. O Brasil encontra-se nesta exata situação: se Trump forçar a barra, os chineses saem ganhando. Claro, nada em economia é assim simples, mas veremos.


Já no meio ambiente, o homem é tão previsível quanto um negacionaista pode ser. Para alguém que nega o aquecimento global enquanto a Califórnia é consumida por um incêndio jamais visto, retirar-se do Tratado de Paris é nada mais que common sense. Os Estados Unidos tem reservas milionárias de pretróleo e irão explorá-las, pouco importanto as consequências. Common sense. Essa conversa de fontes alternativas energéticas é conversa para quem não tem petróleo pra explorar. Again, common sense.


No que toca à política sobre a imigração, até agora há mais fanfarronice que atitude. Em que pese esbravejar afirmando que os imigrantes são todos criminosos, os primeiros atos da política anti-imigração seguem o ritmo de seus antecessores, nada mais. Bem, talvez algumas algemas desnecessárias a mais e um tratamento mais grosseiro, mas nada que fuja ao que Biden vinha fazendo. Contudo, o novo Presidente ameaça colocar 30 mil imigrantes em Guantánamo, ameaça que escandalizou a opinião pública internacional.


E há também muitas bravatas, inúteis bravatas, patéticas bravatas. Mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América? Algo risível e inócuo se efetivado nos EUA. Anexar a Groenlândia? Penso que ninguém leva isso a sério, ao menos por enquanto. Tomar conta do Canal do Panamá? Algo um pouco mais preocupante, mas igualmente não levado a sério pela comunidade internacional. Mas estas bravatas, bem ao estilo Trump, tonitruantes e seguidas por cara de mau, fazem vibrar os aficcionados descerebrados ( um fenômeno que vimos aqui, em escala tupiniquim, no governo Bolsonaro ).


Talvez até agora o pior efeito Trump seja um empoderamento dos ditadores de direita e também da esquerda. Xi Jinping, Putin, Milei, Kim Jong-un, Lukashenko, Maduro, todos estão nadando de braçada. Afinal, a América era o maior bastião da democracia mundial e esta imagem restou bastante afetada ao eleger um Presidente golpista ( nunca é demais relembrar: o 8 de janeiro deles resultou em 5 mortes ). Uma sombra estendeu-se sobre a Terra, a silhueta quadrada encimada pela cabelo amarelo e um rosto cheio de caras e bocas e ameças.


Estamos vendo de tudo. Menos bom senso.


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