Nossa mente é uma ferramenta que pode e deve ser controlada.
Imagem de Vitor Dutra Kaosnoff por Pixabay
Para mim, devemos a Carlo Collodi - jornalista e escritor italiano do Século XIX - uma das mais belas metáforas já criadas pela literatura. Ele é o autor de As Aventuras de Pinóquio. O grilo falante representando a consciência do boneco de pau é a metáfora a que me refiro.
Sim, nossa consciência é um grilo falante e está a toda hora cochichando ao nosso ouvido, conversando conosco sem parar, ao menos enquanto estamos acordados. O grilo falante de Pinóquio era a consciência perfeita, provavelmente porque foi criada para ele por uma fada bem intencionada. Todos seus conselhos eram sempre bons e proveitosos.
Para nós humanos, ao que parece, as coisas não são bem assim. O serzinho que está sobre nossos ombros enchendo-nos de ideias poderia ser representado por outros animais: uma gralha irritante, um gorila raivoso, uma preguiça vagarosa, um leão orgulhoso, uma cacatua vaidosa… Ou mais provavelmente: um ser mutante que assumisse várias destas formas conforme a ocasião.
O que quero dizer é que sabemos/conhecemos a voz da consciência. E estamos cientes de que ela não sussurra apenas bons conselhos. Quem já não teve maus pensamentos? Aquela ideia, terrível, vergonhosa, incômoda, que temos de afastar escandalizados conosco mesmos? Não estamos, em verdade, sempre confrontando e sendo confrontados por nossa consciência? Incansavelmente filtrando o que ela nos sussurra, selecionando o que é aproveitável?
Muitos acreditam que a consciência é nossa mente. Se assim é, o grilo falante em verdade é uma ferramenta. Algo útil para ser bem empregado. A mente/grilo não tem culpa de nada. Afinal, alguém culpa o martelo porque amassou o dedo num golpe desastrado? É culpa da bola se nosso chute vai parar longe do gol? Bem, alguns psicopatas justificam seus crimes apontando para a voz dentro de suas cabeças…
Como toda ferramenta, a mente exige prática. Seremos tão mais hábeis com ela quanto mais nos exercitarmos. Refiro-me não apenas à musculatura da mente, suas habilidades de memória e raciocínio, sua agilidade. Mas sim ao controle da mente. Como toda ferramenta ela pode/deve ser controlada. Pense num revólver. Pouquíssimas pessoas realmente podem possuir um sem fazer dele uso irresponsável. A mente é um revólver à disposição de todas pessoas…
Vamos admitir que somos corpo, mente e espírito. Bem, alguns colocariam a alma como uma quarta dimensão do ser humano, mas para facilitar fiquemos com a tríade corpo/mente/espírito. Em tese, a mente domina o corpo e o espírito domina a mente. Entretanto, tal qual a mente precisa de muito exercício e prática para dominar o corpo, o espírito também não terá êxito sem muito exercício e prática.
E aí reside o problema: não estamos habituados ao exercício espiritual de dominar a mente. Desde pequeninos vamos aprendendo a dominar o corpo, por meio da mente ( falar, andar, correr, escrever… ); mas pouco ou nada aprendemos no sentido de dominar a mente por meio do espírito. E o desenvolvimento espiritual vai muito além disso…
Como todos dispomos de uma mente que mais adequadamente pode ser comparada a um revólver do que ao grilo falante de Carlo Collodi e como poucos de nós exercitam o espírito no controle da mente, fechamos a equação com o seguinte resultado: gorilas raivosos, preguiças vagarosas, gralhas irritantes, cacatuas vaidosas e todo o zoológico imaginável...
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