Por que praticar nudismo?
- Arthur Virmond de Lacerda Neto
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Arthur Virmond de Lacerda Neto
Em ambiente como o brasileiro, em que é “óbvio” e “correto” estar-se vestido, em que a maioria sequer sabe haver nudismo como ideia, como prática, como costume difundido na Europa e no Japão; em que as pregações religiosas condenam a nudez, é importante justificar a ideia nudista.
Em primeiro lugar, a própria existência de vestuário induz as pessoas a usá-lo: as vestes existem para serem usadas, não para não o serem, motivos por que tendemos a estarmos vestidos. Contudo essa tendência não é imperiosa; de haver roupas não se segue que devamos vesti-las sempre: podemos passar sem elas e estar nus, pelo menos em nosso lar.
Quem se veste por costume, por haver sido ensinado assim, porque os outros vestem-se, pode fazê-lo também por decisão consciente, isto é, vestir-se porque realmente o quer fazer, e pode adotar a decisão oposta, de não se vestir se não o quiser fazer, de estar nu por vontade de estar nu.
O nudismo é ato da vontade que o indivíduo exerce, enquanto vestir-se geralmente dá-se por costume, por repetição do que nos ensinaram e imitação do que os outros praticam.
O nudismo é afirmador da vontade individual.
Em segundo lugar, no clima brasileiro, é evidentemente cômodo diminuirmos as roupas que vestimos: ao invés de terno, gonilha (gravata), camisa de mangas curtas, sapatos, é bem melhor camiseta, camiseta regata, calções, tênis, sandálias, chinelos. A vestimenta adapta-se ao clima.
Em suas residências, muitos vestem apenas trajes menores: varões andam de cuecas, varoas de calcinha e estrófio (a “parte de cima”); sequer cuecas, calcinhas, estrófios são necessários: podemos andar pelados; de facto, muitos que residem a sós ou quando estão sozinhos, ficam pelados.
Andar nu em casa é coerente com o clima brasileiro. O nudismo é cômodo em relação ao clima.
Em terceiro lugar, o nudista não aceita haver partes indecorosas no corpo humano. Termos de encobri-lo, pelo menos, com camiseta e calções ou, em casa, com cuecas, calcinha, estrófio, decorre do pensamento de que havemos de ocultar as regiões do corpo tidas por inapresentáveis: mas bunda, mamas, pinto, são partes como quaisquer outras, tão dignas como o nariz e as orelhas.
Não faz sentido pensar que o pinto, a bunda, as mamas, o bico das mamas são indecentes ou indignas e que expô-los é ofensivo ou desrespeitoso; é ideia sem fundamento e que nos constrange em relação a partes de nosso próprio corpo, como se partes de nós próprios fossem indecorosas.
Nus para dormir, nus normalmente em nosso lar, nus em praias, estamos livres dos pensamentos constrangedores de pudor, de vergonha, de pecado, de sexualização, típicos dos encobridores.
O nudismo é libertador.
Em quarto lugar, assim como a soberania sobre nosso corpo implica escolha de vestuário, isto é, de uma peça em lugar de outra, segundo nosso gosto ou nossa conveniência, também representa soberania sobre o próprio corpo escolhermos peça nenhuma; por outra, escolhermos a nudez. Livre é quem quem escolhe a nudez.
O nudismo contém sentido de liberdade. Eis porque os regimes autoritários do nazismo na Alemanha, de Franco na Espanha e de Salazar em Portugal proibiram o nudismo ao ar livre: desejosos de obediência e até de subserviência, não lhes interessava o nudismo, que inspira liberdade e é nela inspirada.
O nudismo é libertário e exprime liberdade.
Em quinto lugar, estar nu implica sensação física e psicológica prazerosa e agradável, uma vez que a pessoa se haja libertado da vergonha de estar nua ou de ser vista nua. É enriquecedora a experiência da nudez: a pessoa observará seus próprios sentimentos e sensações na primeira vez, na segunda, na terceira; observará como os sentimentos (se os tiver) de estranheza e de vergonha vão diminuindo, e que até na primeira vez também diminuem depressa. Sem demora o iniciante fica à vontade e já nem se lembra de estar nu.
Quem se acostuma a estar nu, esquece-se de que o está: a nudez torna-se o estado habitual, normal da pessoa, que deixa de prestar atenção em seu desnudamento, semelhantemente ao usuário de óculos ou de aliança: ele usa-os, sabe que os usa, porém sua atenção não está continuamente voltada aos seus óculos nem à sua aliança.
Muitos descobrem ser agradável estar em contacto direto com o ar, a luz do sol, o vento.
O nudismo é gostoso.
Em sexto lugar, a nudez social (em presença de terceiros) é educadora: ela ensina a separar nudez de sexualidade, nudez de desrespeito; ensina a considerar a nudez como apenas o corpo desprovido de coberturas artificiais, sem nenhuma conotação negativa, e independentemente da condição homossexual, heterossexual, bissexual, assexual, dos presentes.
Homem ou mulher despidos em presença de outro homem ou mulher despidos ou vestidos não representam convite sexual e sim apenas o corpo em seu estado natural. Todo nudista sabe-o perfeitamente, ao passo que os pudicos entendem estas cousas erradamente.
O nudismo não visa a transformar seus adeptos em assexuais, indiferentes à sexualidade, mas ensina-os a desfazer a associação entre nudez e sexualidade, ensina que nudez é apenas nudez, cousa que os pudicos e os vestidistas não alcançam descobrir precisamente porque associam nudez com sexualidade, e associam-nos porque se proíbem o nudismo ou por falta de oportunidade de o experimentar.
Os pudicos e os vestidistas associam nudez com sexualidade porque somente se despem para praticar sexo (e para banhar-se), como se (quase) toda nudez fosse necessariamente sexual; não se permitem liberdade e naturalidade sem malícia, restringem sua nudez a dous exclusivamente gêneros de momentos, ao passo que o nudista permite-se liberdade e naturalidade sem malícia em vários momentos.
Lições do nudismo são as de que nudez é forma de ser e de estar naturalmente, a sós, em família, em praias, em presença de terceiros; de que a atividade sexual pratica-se em momentos específicos, enquanto a nudez pode ser aplicada em momentos vários, no lar, em praias, em campos.
O nudismo é pedagógico.
Disso tudo os europeus sabem há gerações e há mais de 120 anos.
No Brasil quente, é tendência dos anos recentes dormir-se despido; muitos são nudistas domésticos; os jovens aceitam a nudez natural: a mentalidade careta, pudica, envergonhada da geração de seus maiores vai prescrevendo
Toda praia há de ser de nudez facultativa.

Arthur Virmond de Lacerda Neto é um defensor do nudismo, que considera libertador.









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