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DEPOIS


Por isso eu danço, lá embaixo, depois dos degraus duros e insolentes


Imagem de Geminni IA.



A mente rodopia e é engraçado como


desço as escadas como quem despenca do abismo. Mal sinto os pés e as mãos… bem, também já não as encontro coladas ao corpo.


Deve ser o frio, que lá de fora toma conta de tudo, ou pode ser apenas os dias incompletos,


que não deram conta de preencher a alma no meu corpo todo, como o acesso venoso dos hospitais em que ar e sangue brigam pelo espaço vazio.


E é lá, tão alto, para onde os pensamentos vão, e a vida, ah,


essa vida,


apesar de tudo ainda tem charme, cafés gostosos e beijos molhados. Mas também tem falta. Um escândalo de buracos; lacunas por toda parte.


Repetem-se os erros e os segundos não param, cruéis em seu compasso, não existe maior certeza se não de que tudo se acaba, vertendo-se para um deserto inalcançável, onde tudo,


tudo,


tudo,


vira vazio e descansa depois de perecer.


A felicidade trágica dos começos me aperta forte o peito, tira de mim um tanto do ar necessário ao corpo. Corpo este que não me pertence.


Por isso eu danço, lá embaixo, depois dos degraus duros e insolentes,


danço mesmo sem sentir os pés, mesmo sem ter ali um par, novamente, como criatura que vaga sem tocar o chão, que tenta agarrar o mundo sem nada pegar para si.


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