DESVANECER

É como os pensamentos e os sonhos se formam, pouco a pouco, como gavinhas se moldando às escoras do muro tangente. 

Imagem de Geminni IA.

Desde qual momento a beleza é perceptível? É preciso esticar a cabeça um pouco mais para beber tudo o que posso conseguir?  

De repente traço algumas linhas curvas no ar, e com a memória de meus movimentos, sigo uma lógica única, jamais haverá outro pulso semelhante. Amostra de vida, de algo que cresce a partir de si mesmo e se desenvolve, num futuro absolutamente inócuo e espantoso. É como os pensamentos e os sonhos se formam, pouco a pouco, como gavinhas se moldando às escoras do muro tangente. Cegas, do  nada sentem, no exato momento em que passam a existir, crescem simplesmente, curvam-se aos menores toques.

A mente se desfaz, como num conta gotas pingando dentro de um labirinto maior, o labirinto da realidade. Então, da cadência silenciosa da consciência, faz-se a marca do pincel, eterna a habitar aquele canto do tempo, sem pressa de nada. Assim, fixou-se, em todas as dimensões, uma informação, abstrata e concreta ao mesmo tempo, que subsiste da energia de que somos feitos; da mesma energia que preenche um pulmão pálido e seco pela desesperança.  

Avançam a dúvida, o medo, a insuficiência, todos parte do meio a que chamo mente. Mas, nada muda ou some se não pela sorte renascida, branca e turva do mundo exterior, por mais rico e aleatório que seja o labirinto. Notas e toques e cores e luzes, um amontoado de informação podre e estéril, sem qualquer utilidade pode se transmutar no lençol onírico mais bonito, e às vezes isso acontece por acaso.  

Não há porque crer na mão cirúrgica do querer enquanto o espetáculo é totalmente incerto e caprichoso. Nem mesmo se justifica a tentativa de botar sentido em coisas que quiçá possuem forma para isso. Meu palpite, humilde e de todo jeito equivocado, vai na direção de que é preciso apenas tecer enfeites com o banquete de teias do ser e do existir, sem pedir nada em troca.