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DO DESPERTAR


A mente tirou para dançar a bela e misteriosa ilusão

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Imagem de Geminni IA.



Depois de alguns punhados de areia nos olhos que trouxeram a cegueira e a indiferença sólida e aparentemente indestrutível, talvez algo tenha mudado. Não foram os nós na corda os responsáveis por elevar tudo isso. Não foram sequer os flashes esquisitos das almas passageiras.


As notas continuam isoladas, sem parecer formar sentido algum dentro do tempo normal dos mortais, mas os anos distorcidos mudam completamente a paisagem. Estes fazem o inner-eye sorver, de forma indistinta, os males e as bênçãos do ser em desencanto. E como num estouro surdo, nenhuma pergunta é capaz de se fazer enxergar no meio da fumaça tóxica, apesar de, sim, ter o spirit percebido cada segundo.


Ao olho místico absolutamente nada escapa, ainda que fique impossível distinguir algo, pois o movimento é eterno. E intenso. E não se curva aos mortais nem à sua pobre moral. Diverte-se tal qual uma entidade viva e pulsante, rindo-se dessa confusão incontrolável.


Todos a postos! A mente tirou para dançar a bela e misteriosa ilusão, disseram eles, de modo a confundir de Orfeu a Hades. Está entalhada em cada parede a mensagem de que tudo não passa de autoengano, contudo os inocentes, ou boa parte deles, ainda formam exércitos quase funcionais.


Não obstante a horripilante batalha lá fora, deve reinar o silêncio sobre o que há de humano nesse corpo. Os grãos de areia, aqui, certamente não mais formarão pérolas, mesmo que a miragem possa ser tocada. Mesmo diante de criaturas bem intencionadas. Mesmo?


Reticente e desanimado, mas carregando em sua bolsa, sem saber, um antídoto poderosíssimo, o spirit permanece onde estava, afinal, em que lugar mais estaria? Ele sabe - e não sabe - da quantidade de silêncio vazado por sua bolsa. Quase abriria um dos olhos, se pudesse. Quase usaria um dos braços fortes para empurrar portas enferrujadas, se ousasse. Porém, a areia já não obstrui pontos importantes da visão. Então pode e ousou, de fato.


Haverá o momento em que olho e espírito se tocarão, sem medo algum, para perceber se tratarem de um só. E apenas. E descansando sobre o mesmo mármore do inferno, sobre as misérias humanas transformadas em trapos, a queimar.


“Acenda as luzes”, recomendou uma voz claramente afetada por lágrimas de angústia. Que será? Decerto alguém trancou uma parte na qual nem mesmo a fumaça penetra. “Tomara”, rezaram os inocentes. Tempo e espaço não têm o menor sentido aqui, e eles foram avisados.


De alguma forma milagrosa, no entanto, o órgão vivo e ensanguentado foi instigado novamente. É uno, com todo o cenário de destruição e ressurreição que reina, mas chorou. Foi alcançado e retomou, ao menos em parte, suas funções vitais.


Deram todos as mãos e viram os dedos se fundirem, queimando a água salgada. Sobrou sal. Apenas. Parece realmente que precisaram se separar para que chegassem até aqui.


Desabrocho em mim

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