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Foto do escritorManuel Rosa de Almeida

ENCARNE O PAPEL, REGINA!

A mulher frágil e alienada que concedeu entrevista para a CNN não pode ser Regina Duarte...



Imagem deAlex YomareporPixabay



Grandes atores mergulham no personagem que representam, passam a viver aquela fantasia integralmente enquanto atuam. Para tanto, estudam o personagem, seu caráter, seus trejeitos, de que fibra são feitos e sujeitam-se mesmo à mudanças físicas. Uma vez preparados, representam o papel com incrível fidelidade, já que estão apenas vivendo o personagem. Encerrado o trabalho, reassumem em carne e espírito o ser humano real, despem-se do personagem e seguem em frente.


Regina Duarte é, sem dúvida, uma grande atriz. Em sua longa carreira, notabilizou-se por dar vida a mulheres fortes, marcantes. Foi assim com Malu Mulher, com a Rainha da Sucata e com a viúva Porcina, entre tantos outros papéis. Por isso, foi triste e chocante assistir sua entrevista para a CNN - concedida recentemente. O que se viu na tela, em quarenta minutos, foi uma mulher frágil, despreparada, que aparentemente desconhece totalmente o que faz uma Secretária da Cultura. Ficou lamentando a burocracia e suas dificuldades, sem entender que a burocracia é muito vezes a desculpa usada pelo poder para anular um Secretário que incomoda.


Quando minimizou as mortes do período ditatorial, estava claramente preocupada em agradar o chefe. Mas foi extremamente infeliz com a fórmula pessoas morrem, devemos seguir em frente, mesma mensagem alienada com que o Presidente enfrenta a pandemia, como se não tivesse nada a ver com o assunto. Em seguida pediu para esquecer o passado e pensar para frente, sem perceber que é justamente a preocupação com o que possa acontecer lá na frente que levanta as críticas às posturas pró-ditadura de Bolsonaro.


Questionada sobre a omissão da Secretaria da Cultura acerca da morte de figuras emblemáticas da cultura ( como Aldir Blanc, Rubem Fonseca, Moraes Moreira e Flávio Migliaccio ), respondeu que mandou uma mensagem pessoal às famílias e que - novamente, como pessoas morrem, não quer transformar a Secretaria da Cultura em um obituário. Repito, ou quer agradar o chefe e não faz homenagem às personagens da cultura que o desagradam ( o que mostra uma personalidade fraca ) ou é totalmente alienada, pois é papel da sua pasta enaltecer os expoentes de nossa cultura enquanto vivos e quando passam. Como atriz devia estar ciente de quão é desvalorizada a cultura em nosso país...


A sua alienação chegou ao ápice quando disse a seguinte frase: o Presidente é uma pessoa leve! Ou ela não sabe mesmo quem é o Presidente da República ou vive num conto de fadas. Talvez seja a segunda opção, porque em certos momentos pareceu tão distante da realidade como se tivesse tomado um tapa antes da entrevista, repetindo o mantra vamos ser leves, vamos ser leves… Então não percebe que vivemos a pior crise em décadas? Que pedir leveza para uma população em isolamento social, ou morrendo de fome ou de COVID-19 é o cúmulo da alienação?


Ao final, instada a pronunciar-se sobre um depoimento de Maitê Proença, perdeu totalmente a compostura. Maitê cobrava, num vídeo duro mas respeitoso, que a Secretária da Cultura entrasse em contato com a classe, para buscar soluções aos gravíssimos problemas de sobrevivência que enfrentam os que vivem de arte. Afinal os artistas vivem do público e o público está em isolamento. Regina disse que aquilo não estava combinado, lembrando o patrão quando manda a imprensa calar a boca. Tanto ela, quanto o Presidente, parecem simplesmente desconhecer o papel da imprensa. Quando uma autoridade se dispõe a conceder entrevista deve enfrentar as questões que se levantam, mesmo as desagradáveis. Afinal, se a ideia é simplesmente dar seu recado ao povo brasileiro é melhor falar em rede nacional…


Enfim, muito triste ver uma grande atriz manchar sua biografia desta forma. É melancólico ver a atriz que encarnou mulheres tão fortes, parecer uma frágil marionete de um governo violento e que, certamente, desdenha a arte, exceto talvez aquela arte heroica, apregoada pelo seu antecessor, ao plagiar Joseph Goebbels.


Mas, querida Regina Duarte... Há uma solução. Peça ao roteirista que você mais admira que crie um papel sobre uma Secretária da Cultura corajosa, determinada, capaz de enfrentar as insanidades do governo e defender sua classe, custe o que custar. Encarne este papel, Regina. Represente-o, pois você é uma grande atriz e é capaz de fazê-lo. Viva este personagem, Regina, e salve a imagem que você tem com milhares de fãs.



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