Bolsonaro tem uma recaída e revela que continua o mesmo…
Imagem de José Augusto Camargo por Pixabay
Não tem erro. Se você perguntar a um milionário como ele conquistou sua riqueza e o sujeito gaguejar, pode cravar: corrupto, ladrão. É muito simples. Ninguém esquece a maneira como se tornou milionário, seja por uma herança, seja a fábrica iniciada no frescor dos vinte anos, seja até a mega-sena… A pessoa sabe. Se não quer explicar ou se perde em reticências é porque tem vergonha de dizer a verdade que, seguramente, está relacionada a algum tipo de desonestidade.
Da mesma forma, um patrimônio incompatível com a receita mensal de uma pessoa é indício seguro de corrupção. Se o sujeito, chamado pela polícia ou pelo Ministério Público a explicar como tem aquela cobertura em copacabana, três carros importados, etc, e não consegue dar explicação plausível, batata: corrupto.
Neste domingo, visitando a catedral de Brasília, Bolsonaro foi perguntado por um jornalista de O Globo sobre o dinheiro depositado por Fabrício Queiroz na conta de sua esposa Michelle. Sua reação foi dizer ao jornalista: “ Estou com vontade de encher a tua boca de porrada, seu safado”. Francamente, o que a resposta significa?
Como em quase tudo, há duas leituras. Pessoas desinformadas, ingênuas, despreparadas ou lobotomizadas pelo fanatismo podem entender que o Presidente deu uma resposta a altura a um jornalista que ofendeu a primeira dama, sua esposa. O tal jornalista deve ter algum interesse político para desqualificar assim pessoa tão querida quanto Michelle Bolsonaro e merecia mesmo uma porrada.
A leitura isenta, raciocinada, pensamento a partir de mentes livres, entendem mais ou menos da forma que se avalia o milionário que se engasga para explicar como atingiu sua riqueza ou o indivíduo que tem patrimônio muito além de seus ganhos mensais. Afinal, a pergunta é pertinente e se enquadra perfeitamente dentro do contexto de um escândalo investigado pela imprensa livre. As pessoas têm direito de saber se há uma justificativa para os depósitos na conta de Michelle Bolsonaro, assim como na conta de Flávio Bolsonaro e sua franquia de chocolates. Se não há resposta é muito lógico pensar em corrupção.
Analisando pelo prisma psicológico, chega-se à mesma conclusão. A pergunta incomoda o Presidente ao ponto de interromper selfies e cumprimentos a populares para dar esta engrossada. A pergunta não incomoda apenas porque se refere à primeira dama, claro que não. Imagine que o jornalista perguntasse: Presidente, a primeira dama também é palmeirense? No cenário do jornalismo esportivo ou lúdico, a pergunta seria igualmente pertinente. E o Presidente certamente responderia com bom humor. Portanto, a pergunta incomoda e perturba Bolsonaro, mas não apenas porque quer manter a esposa longe das atenções públicas.
No entanto, a pergunta poderia ser perturbadora e incômoda e ainda assim receber uma resposta cortês. Imagine que o jornalista perguntasse: Presidente, porque contra todas evidências científicas o senhor é contra o isolamento social? Novamente, uma pergunta pertinente num cenário de pandemia, pergunta aliás já feita inúmeras vezes ao Presidente que respondeu, mesmo contrafeito, não ser contra o isolamento social, mas estar preocupado com a recuperação da nossa economia.
Então, quando o Presidente recebe uma pergunta pertinente e responde com a expressão de seu desejo de esbofetear o jornalista é porque a pergunta é incômoda, perturbadora e… não tem resposta. Se não tem resposta, caímos naquele ponto: corrupção, desonestidade, algo vergonhoso que não pode ser explicado. Batata. Simples assim.
Duas últimas reflexões: Michelle Bolsonaro não está necessariamente implicada em nada. É possível que ela apenas tenha sua conta particular utilizada indevidamente, o que faria dela mais um laranja. Seria culpada de omissão, mas na situação dela, compreensível e quase desculpável. De qualquer modo, se preza seu bom nome, deveria vir a público e dar explicações.
E por fim, o episódio revela o que todos já sabem, ao menos aqueles que pensam. Bolsonaro não mudou nada. Seu comportamento um pouco mais controlado e cordato só tem relação com sua necessidade de sobrevivência. Tanto quanto sua aproximação ao centrão, a Rodrigo Maia, sua desesperada busca de quebrar o teto de gastos para programas como o Renda Brasil e outras demagogias do momento...
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