Bolsonaro, por tabela, afirma que comanda Augusto Aras…
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Bolsonaro voltou a ser Bolsonaro. Incontido, transparente, transparentemente trapalhão. Em discurso, na última quarta-feira, o Presidente candidamente saiu-se com esta:
É um orgulho, é uma satisfação que eu tenho, dizer a essa imprensa maravilhosa que eu não quero acabar com a Lava Jato. Eu acabei com a Lava Jato, porque não tem mais corrupção no governo.
Em apenas três linhas o Presidente confirma três facetas ruins de sua personalidade, aspectos que, afinal, não eram desconhecidos de ninguém, mas estavam contidos sob o pano da necessidade política: arrogante, mentiroso, despreparado.
A arrogância está em afirmar que ele, Presidente da República, acabou com a Lava-Jato. A Lava-Jato tem lá seus defeitos, sim. Uma tendência à exposição precoce de investigados, um desrespeito rotineiro às garantias individuais. Mas é inegável seu papel essencial no combate à corrupção institucionalizada. E, ao menos em tese, em nossa democracia o Ministério Público Federal deveria ser absolutamente independente. Portanto, nenhuma medida tomada no Planalto poderia afetar a operação Lava Jato. Entretanto, a arrogância de Bolsonaro tem bom motivo e até nome: Augusto Aras.
A mentira reside em afirmar, com a maior cara lavada, que não há corrupção em seu governo. Só um desinformado compra esta fake news. Afinal, a maior parte dos esforços deste governo dirige-se a esconder a corrupção do Presidente e de seus filhos, buscando cercear todas investigações em torno das rachadinhas - prática comum entre os Bolsonaro - e a investigação das fake news. Assim como as relações do clã com as milícias do Rio de Janeiro. Por isso Bolsonaro afastou Moro e aproximou Aras, convenientemente. A família Bolsonaro, em boa metáfora do interior, é mais suja que pau de galinheiro.
Por outro lado, é certo que a corrupção de um governo apenas é investigada em retrospectiva. É muito difícil apontar corrupção em um governo que está se desenrolando. Sobretudo quando o Executivo busca controlar o Ministério Público.
O despreparo está no fato de que, a partir de sua arrogância, prepotência e vaidade, ele cria problemas para si mesmo. Ou será que não percebe a situação em que colocou o subserviente Augusto Aras? Bolsonaro simplesmente afirmou, em discurso oficial, que manda na Procuradoria Geral da República, porque, afinal, ele acabou com a Lava-Jato. Procuradores da República já se pronunciaram condenando veementemente a manifestação presidencial. Aras, é claro, ficou calado.
As três linhas apresentam, ainda, uma nova faceta: sarcasmo. Aqui uma faceta para a qual não demonstra capacidade especial, afinal sarcasmo exige inteligência e sutileza, ambas qualidades que faltam ao Presidente. Quando chama a imprensa de maravilhosa, ele realmente está demonstrando todo seu desprezo pela imprensa livre. É um sarcasmo pobre, de elefante. Mas é sarcasmo...
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