Vamos torcer que as instituições argentinas sejam tão resilientes quanto as nossas...
Imagem de Exame.
Aparentemente todas as nações precisam passar por um processo de insanidade coletiva. É assim uma espécie de catarse coletiva em que se resolve chutar todos os baldes e abraçar a mudança, seja lá qual for ela. Agora chegou a vez da Argentina.
Os hermanos vão de Milei. Muito mais que um mergulho no escuro, trata-se de lançar a nação no furacão que levou Dorothy ao mundo de Oz, porém numa versão mais sombria e imprevisível. Ao eleitor argentino não importou se ele vai dolarizar a economia argentina sem ter reservas suficientes para isso. Tampouco preocupou a extinção do Banco Central e a privatização tresloucada de todas empresas públicas. Não querem nem saber se ele vai extinguir o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação - leia-se privatizar a saúde e a educação ( pobres argentinos que se virem! ). E mais, sequer se preocuparam se ele ouve conselhos de seus cãezinhos falecidos ou toma decisões jogando cartas de Tarot. Queriam mudar. Dane-se o resto. Mudança!
Infelizmente foi este o espírito que norteou os italianos que levaram Mussolini ao poder e os alemães que alegremente se entregaram a Hitler e ao nazismo. Este vento de mudança tem um viés de direita inegável e parece soprar no mundo inteiro. Faça as contas: Trump ( EUA ), Viktor Urbán ( Hungria ), Giorgia Meloni ( Itália ) e o nosso Borsa aqui no Brasil. Putin e Lukashenko ( Rússia e Bielorrúsia ) estão muito mais pra direita que pra esquerda, embora muitos petistas ainda babem pelo ex-chefe da KGB.
Uma vez atingido seu primeiro objetivo, todos estes candidatos a ditadores procuram perpetuar-se no poder. A fórmula é sempre a mesma, uma espécie de cartilha de como se apossar do poder e não mais devolvê-lo ao povo: ataques à Corte Suprema, se possível com intervenções diretas ( por meio de nomeações ) ou por meio de alterações legislativas; ataques à imprensa livre ( criando toda sorte de teorias da conspiração ); ataque ao sistema eleitoral ( que os elegeu, mas pode não reelegê-los no futuro ); aproximação às forças armadas; cooptação do Poder Legislativo por meio da distribuição de cargos e recursos.
Trump e Bolsonaro tentaram o golpe e fracassaram. Se voltarem ao poder, tentarão novamente. Recordo que Hitler também fracassou no primeiro golpe - o famoso Putsch da Cervejaria de 1923, que o levou à prisão e lhe deu tempo para escrever Mein Kampf, ditando notas que Rudolph Hess anotava. A história ensina, mas as pessoas recusam-se a aprender. Os americanos, a meu ver, tratam Trump com muita leviandade. O homem deveria estar preso e não concorrendo novamente à Presidência. Aqui, pelo menos, Bozo está inelegível, sabe Deus até quando.
Novamente, este vento de ultradireita não vem do nada. Origina-se da incompetência e arrogância de uma esquerda que simplesmente não sabe o que fazer quando chega ao poder. Há um cansaço e uma desilusão tão grandes com a esquerda que - pasmem! - afetam os trabalhadores e a juventude. Quando a juventude torna-se militante da extrema direita estamos perdidos...
Milei surge do fracasso e da corrupção do Peronismo, assim como nosso capitão reformado surgiu do fracasso e corrupção do PT. A ascensão destas tristes figuras é sempre um processo eleitoral ditado pela amargura e frustração. Agora, em homenagem à democracia ( esta vestal que adora uma Vestália, uma desbundada ) é preciso deixar o homem governar. Vamos torcer que as instituições argentinas sejam tão resilientes quanto as nossas.
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